É evidente que o livro de Nikolaus
Wachsmann não é definitivo sobre o assunto, mas é um trabalho soberbo sobre os
campos de concentração nazis. Aliás, o autor de raízes britânicas e alemãs
cresceu junto do primeiro campo de morte nazi – Dachau.
Em 1935, na Alemanha, cantava-se acerca de
Dachau, o primeiro campo de concentração aberto a 20 de Março de 1933: Deus
meu, faz-me mudo, mas não permitas que eu seja levado para Dachau.
São inumeráveis os testemunhos de
sobreviventes destes campos. Primo Levi e Elie Wiesel (Prémio Nobel), contam-se
entre eles. Como Chil Rajchman, que conseguiu sobreviver a Treblinka, cujo
testemunho (Sou o último Judeu - 2009) inicia com uma frase própria de Homero
ou Empédocles: “Os vagões tristes transportam-me para este lugar”. A própria
ficção como “o rapaz do pijama ás riscas” de John Boyne nos retrata o profundo
horror dos campos de morte.
Wachsmann teve o mérito de centrar a sua
tese de doutoramento no sistema legal do regime e na forma como ele coabitava
com o terror. E a seguir concentrou-se, durante dez anos (!), na imensa
informação dispersa por artigos académicos, depoimentos e documentos da época,
condensando-a num único volume. E o resultado é de assombro.
O trabalho de Wachsmann sendo colossal,
não será definitivo. As gerações futuras colocarão outras questões e outros
documentos hão-de surgir. Mas o autor condensou o que existe até ao momento,
fazendo um levantamento geral do sistema dos campos de morte nazis. E com ele,
compreender o terror e a morte (o “Mal”) que o Terceiro Reich gerou.
É questão fundamental interrogar-mo-nos o
que teria levado o país de Goethe, a Republica de Weimar alemã, uma democracia
civilizada ocidental, a evoluir a uma velocidade incrível para o Terceiro Reich
(talvez Hermann Hesse nos dê a resposta). O autor de “KL” reflecte sobre o
assunto. E com a dureza da palavra pura discorre sobre temas que nos passariam
ao lado. Armando
Palavras
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