JOÃO MIGUEL TAVARES
04/08/2015 - 05:24
Jornal Público
José Guilherme, o homem que ofereceu 14
milhões a Ricardo Salgado, está a ser investigado num processo relacionado com
o Montepio Geral, que lhe terá emprestado 17 milhões de euros há cerca de um
ano com base em garantias do Finibanco Angola, que é maioritariamente detido
pelo próprio Montepio.
Ao mesmo tempo, o seu
filho possui uma participação indirecta no Montepio, que foi financiada no
final de 2013 pelo Finibanco Angola – mais uma família que é ao mesmo tempo
devedora e accionista de um banco. José Guilherme e Ricardo Salgado foram alvo
de investigações por branqueamento de capitais no decorrer da Operação Monte
Branco, e terão sido escutas relacionadas com esse processo que acabaram por
dar origem à Operação Marquês, pela qual José Sócrates está detido.
Paulo Lalanda e Castro,
o homem que deu emprego a José Sócrates na Octapharma, tem o seu nome envolvido
em três processos judiciais: a Operação Marquês, devido à sua relação com
Sócrates e com o grupo Lena, com o qual estabeleceu contratos de assistência
técnica na construção de hospitais na Argélia; a Operação Labirinto,
relacionada com vistos gold atribuídos à boleia de contratos de prestação de
saúde acordados com o estado líbio; e a operação brasileira que ficou conhecida
como Máfia dos Vampiros, onde a Octapharma e Paulo Lalanda e Castro foram
investigados por manipulação nas vendas de hemoderivados ao Ministério da Saúde
brasileiro. Em Portugal, a questão dos hemoderivados foi alvo de uma recente
investigação da TVI, que comprovou que a maior parte do plasma português
recolhido através da doação de sangue é deitado fora, para depois ser comprado
à Octapharma, num negócio que já chegou a atingir 70 milhões de euros/ano.
Armando Vara,
ex-secretário de Estado, ex-ministro do PS, ex-administrador da CGD e
ex-vice-presidente do BCP, condenado em primeira instância por tráfico de
influências no processo Face Oculta, foi recentemente detido no âmbito do
Processo Marquês. A sua detenção está relacionada com um empreendimento em Vale
do Lobo, cuja compra terá facilitado enquanto administrador da CGD, num negócio
que se revelou ruinoso para a Caixa: a dívida em 2014 ascendia aos 360 milhões
de euros. O empreendimento de Vale do Lobo foi comprado por um consórcio
liderado por Hélder Bataglia, Luís Horta e Costa e Pedro Ferreira Neto,
homens-fortes da Escom, detida pelo Grupo Espírito Santo, e antigos arguidos no
caso dos submarinos.
Armando Vara, após a
sua saída do BCP, foi liderar a empresa Camargo Corrêa em África. A construtora
brasileira comprou a Cimpor em 2012, tendo convidado Proença de Carvalho para
chairman. Entre 2010 e 2014, Armando Vara foi administrador da Camargo Corrêa,
numa época em que a empresa era liderada por Dalton Avancini. Avancini foi
condenado há duas semanas por corrupção, lavagem de dinheiro e operação
criminosa, no decorrer da Operação Lava Jato, que já começou a investigar o
próprio Lula da Silva. Um dos delatores do processo garantiu que parte do
dinheiro do esquema de corrupção era lavado via BES. A Lava Jato envolve outras
grandes construtoras brasileiras, a mais destacada das quais é a Odebrecht, que
juntamente com o grupo Lena foi vencedora do consórcio do TGV que deveria fazer
a ligação Poceirão-Caia. A Odebrecht pagou várias viagens internacionais a Lula
da Silva. Entre essas viagens, inclui-se a sua vinda a Portugal a 23 de Outubro
de 2013, para apresentar o livro de José Sócrates, A Confiança no Mundo.
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