Vasco Pulido Valente in: jornal Público |
Os burocratas - PÚBLICO
O PS um partido moderno? Não, um partido de burocratas
sem responsabilidade e sem brilho.
O PS nunca se distinguiu pela especial competência da
gente que o dirigiu e governou o país durante mais de 20 anos. Algumas
personagens foram com certeza melhor do que outras, mas nenhuma (tirando
Salgado Zenha e José Manuel Medeiros Ferreira) deixou uma obra durável e uma
memória presente e calorosa.
Mesmo agora, com uma eleição decisiva à porta, o
pequeno grupo que rodeia Costa não se recomenda pelo que fez, nem muito menos
pelo que diz. Na intimidade presumo que se acha mutuamente uma esperança; em
público não passa da cartilha que já repetia no tempo de Seguro, e volta hoje a
repetir com Sócrates, ornamentada por um vaguíssimo calão económico e por meia
dúzia de promessas, que o cidadão comum não leva a sério, tanto mais que são
aéreas e na sua maior parte hipotéticas.
O dr. Costa deu anteontem uma entrevista a este jornal
em que, entre chover sobre o molhado e soltar livremente a sua fantasia,
resolveu tratar de um problema real: a reforma do Estado. Pondo de lado a
crítica sem sentido à coligação, Costa identificou três pontos, dignos do seu
particular zelo: o mar, a modernização administrativa e (calculem!) o
desenvolvimento e ordenamento regional. Mas, para chegar aos seus fins nestes
três pontos cruciais, Costa não inventou melhor do que fabricar três novos
ministérios, que permitam “existir um ministro (claro) com a função
transversal”, que “articule” e defina as “políticas sectoriais”. Não quero dar
um desgosto a este novo salvador da Pátria, só gostava de o informar que desde
1980 que se fala nessa tremenda habilidade; que Sá Carneiro teve um ministério
da Reforma Administrativa; e Cavaco um ministério do Mar.
Isto só serviu, como é natural, para provocar um
prodigioso número de querelas de competências; para aumentar o funcionalismo; e
para paralisar o Estado nas matérias em que precisamente se queria que
aumentasse a sua putativa eficácia. O que na situação em que estamos não
aquece, nem arrefece, mas mostra bem por dentro a cabeça de António Costa: uma
cabeça de alto funcionário, dedicada a fortalecer a administração central, a
diminuir a força e a autoridade dos privados (que “ganham milhões com o
outsourcing”) e, entretanto, a rabiscar organigramas para deleite dos
militantes, que lá se tencionam pendurar. O PS um partido moderno? Não, um partido
de burocratas sem responsabilidade e sem brilho.
Sem comentários:
Enviar um comentário