sexta-feira, 15 de maio de 2015

O Ramo de Ouro – Rito da Árvore da Rama Dourada na Eneida de Virgílio



Por SARA PEREIRA - 16 Anos
O quadro de Turner, intitulado de O Ramo de Ouro, é inspirado numa história da mitologia pagã, apresentando-se como uma reinterpretação pictórica de um dos episódios mais marcantes da Eneida de Virgílio. Neste episódio, em verso, conta-se a intenção do príncipe Eneias de visitar o reino dos mortos para se encontrar com Anquises, o seu falecido pai, para que este iluminasse o seu caminho na terra.
Eneias nascera da união de Anquises e Afrodite, e antes do seu nascimento já estaria determinado que seria ele a reinar os Troianos, iniciando em si uma nova linhagem. Participou na Guerra de Tróia, destacando-se pela sua bravura, lutando lado a lado com os principais heróis gregos, embora recorrendo frequentemente à ajuda dos deuses. Foi precisamente numa dessas comuns situações em que Eneias se via como alvo, que decidiu recorrer à ajuda de seu pai, Anquises, já falecido. No entanto, para conseguir descer ao reino da morte são e intacto, Eneias necessitaria de auxílio de Sibila de Cumas, uma sacerdotisa que conhecia o segredo da imortalidade, mas não da juventude, característica que não lhe fora cedida, condenando-a a uma vida de um milénio de anos num corpo que envelhecia progressivamente, como o de qualquer outro comum mortal.
Sara na apresentação do trabalho à turma
Seguindo o curso da lenda, é dito que quando Sibila conheceu o príncipe Eneias, era ainda uma jovem radiosa que lhe ofereceu como símbolo um ramo de ouro. Este ramo, segundo o que seria mencionado na obra literária O Ramo de Ouro (logo no inicio, no capitulo d'O Rei do Bosque, sobre Diana e Vírbio), de James Frazer, deveria ser cortado com uma foice de ouro e recolhido de uma árvore do bosque sagrado de Diana, sendo esta tão valiosa que era permanentemente protegida por um sacerdote, que daria a vida pela sua protecção, sendo imediatamente substituído por outro, caso se desse o seu óbito. Sem este ramo, Eneias nunca poderia vencer a prova da morte. Isto é dito exactamente por Sibila numa curta passagem da Eneida de Virgílio (Canto VI): “... Herói nascido de divino sangue, filho de Anquises e troiano inteiro, fácil é o descer para o Averno, (...) mas o que custa mais é o regresso, (...) bem poucos o fizeram (...). Mas se em teu peito tens um tal ardor, um tal desejo de, por duas vezes, cruzar as mortas águas d’uma Estige, (...) tens de saber primeiro o que fazer. Em árvore, em ramos bem difíceis de serem desviados, há um deles, um de brando caule e folhagem de ouro, (...) busca-o pois, (...) quando o vires com a tua mão, colhe-o. (...) Só assim tu verás os bosques de Estige, o reino que não se abre a quem é vivo.”

Turma do 11º L da disciplina de História da Arte - Escola Secundária Sebastião e Silva - OEIRAS.
António Carvalho, Mauro Dias, Marta Aguiar, João Rodil, Joana Assunção, Alexandre Pires, Sara Pereira, Madalena Gomes, Maria Monteiro, Pilar Saramago, Sara Bentes, Mariana Morais, Pedro Caldeireiro, Mónica Trindade, Carolina Caramelo 
O significado do quadro de Turner tornase assim bastante mais claro: vivemos como se a morte não existisse, indiferentes ao caminho da imortalidade que nos é oferecido por este misterioso ramo de ouro.
Desta forma, o rito da árvore da Rama Dourada simboliza uma visão religiosa baseada no paralelismo simbólico entre, por um lado, a morte e a ressurreição dos deuses e, por outro, os ciclos e ritmos regenerativos da Natureza, sendo que este último conceito é aplicável na humanidade de todos e quaisquer tempos históricos.

Na gravura de Turner é portanto directamente observável a paisagem da floresta sagrada da Deusa Diana. Do lado esquerdo da composição pictórica está então a Sibila de Cumas, profetisa e protectora de Eneias, no início da sua aventura para fundar Roma. Esta segura o ramo de ouro que permitiria a Eneias o acesso ao mundo das almas e dos mortos, de onde poderia observar a grandeza do futuro de Roma e obter ajuda do seu falecido pai. Em planos posteriores encontram-se protectores do Ramo e o lago de Nemi, residência de Diana.

  
Fontes:

  • Dicionário da Mitologia Clássica, Constantino Falcon Martinéz; Emílio Fernández-Galiano, Raquel López Melero, Presença, 1997;
  • O Ramo de Ouro - Versão Ilustrada - Sir James George Frazer, Professor Darcy Ribeiro, Waltensir Dutra Zahar Editores, 1982;
  • Virgílio - Bucólicas Georgicas Eneida (Tradução de Agostinho da Silva), Temas e Debates;
  • religioes.no.sapo.pt/cjoao2.html

(Actualizado em 22 de Maio de 2015)




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