Vasco Pulido Valente |
PÚBLICO
António
Costa resolveu dividir o partido de acordo com os resultados das primárias.
Aproximadamente, dois terços para ele e um terço para Seguro, ou seja, para a
gente que apoiou Seguro.
Na
Quadratura do Círculo, explicou que o PS não tinha o hábito, como o PSD, de
afastar quem perdia nas querelas domésticas. O PS aproveitava sempre os
vencidos e aceitava colectivamente como sua a história da “família”, fosse ela
a que fosse: o “soarismo”, o “guterrismo”, o “socratismo”, o “segurismo” e
agora o “costismo”. O símbolo desta trapalhada é, neste momento, o amável
Eduardo Ferro Rodrigues, que já subiu passo a passo a escada do partido, de
“militante de base” a secretário-geral, e anteontem aceitou ser presidente da
bancada do grupo parlamentar socialista, com uma grande variedade de espécies
criadas com desvelo no mesmo aviário.
Com
certeza não ocorreu a Costa que os portugueses queriam remover Seguro da sua
vida, mas também estavam fartos das personagens secundárias, que desde 1976
ajudam à missa. O apadrinhamento de Costa pelas relíquias do PS (Mário Soares,
Almeida Santos, Jardim e Alegre) não anunciava nada de bom. A pesca miraculosa
de amigos de muitas famílias, que só se distinguem na vida pública pela sua
idade e pelo sossego com que atravessaram a democracia, piorou as coisas.
Quando a procissão sair do adro com a velha tropa à frente, tropeçando e
tossindo, não haverá um único cidadão activo que lhes conceda a mais remota
confiança. “Lá voltam eles!”, dirão desconsoladamente os basbaques do costume.
“Isto não muda”.
Como,
aliás, no PSD, não se ouve no PS um nome conhecido pela sua importância
autónoma. Parece que nem um médico, nem um advogado, nem um arquitecto, nem um
empresário jamais se dignou a pôr os pés no casarão do Largo do Rato. E parece
pior. Parece que o mundo do Largo do Rato não comunica com o mundo do cidadão
comum. Existia uma esperança, embora ténue, de que a Câmara de Lisboa tivesse
transmitido a Costa uma noção do que sucedia cá fora. Seguro até garantiu que
ele não largava “a janela”. Talvez não largasse. O pior é que o “novo rumo” com
que ele sonhava era a manifestação de “carbonários”, que, em 1910, para nosso
mal, proclamou a República. O cozinhado de facções que António Costa esta
semana perpetrou (e se prepara para continuar) não anima ninguém. A
mediocridade ganhou.
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