Por: Barroso da Fonte |
Parodiando
os cursilhos partidários que se realizam um pouco por todo o país e a que
chamam «universidades de verão» desta ou daquela formação partidária, também em
Vilar de Perdizes decorreu o 28º congresso de medicina popular, entre 4 e 7 do
corrente.
Padre Fontes |
Esta
última edição foi diferente das anteriores, nalguns aspectos: o mediático padre
Fontes delegou na Presidente da Direcção da Associação da Defesa do Património
de Vilar de Perdizes, Deolinda Silva, e num grupo de trabalho da mesma
colectividade, constituído por um alargado leque de pessoas das diferentes
sensibilidades locais. Por outro lado, o Padre Fontes, que foi criador desse
congresso e que desde 1983 não mais aceitou que terceiros se intrometessem na
sua organização, incluindo a Câmara Municipal de Montalegre, solicitou ao
actual bispo da diocese D. Amândio Tomás que fosse substituído nas suas
paróquias, quando completou meio século de actividade religiosa. O prelado
aceitou a resignação e colocou nas mesmas paróquias (Vilar de Perdizes e
Meixide), o Padre António Joaquim Dias, mais conhecido por Padre Tó Quim que é,
simultaneamente, o capelão da Unidade Militar de Chaves. Com esta renovação
organizativa e com o habitual apoio logístico da Câmara Municipal, nomeadamente
com a cedência de vários e apropriados quiosques, o congresso respirou outra
fluidez. O cartaz do programa, a repercussão sonora das comunicações e a
escolha dos moderadores foram aspectos louváveis. Quatro dias bem preenchidos
com cerca de três dezenas de comunicações, acerca de temas recorrentes mas
sempre actualizados e expostos, alguns com recurso às novas tecnologias.
Abriu
o Congresso o Presidente da Câmara, Prof. Orlando Alves, que teve palavras de
circunstância para com os responsáveis e saudações de boas vindas aos
congressistas. Ali marcaram presença representantes das mais exóticas áreas do
oculto, do psiquismo, do paganismo e da parapsicologia. Falou-se da romanização
deste vale fronteiriço do sopé do Larouco, dos vestígios dos povos iberos e
célticos, das vias romanas e das batalhas decisivas, desde o reino da Galiza
(411), à de Aljubarrota (1385); da importância das termas de Chaves; das
implicações luso-galaicas, das trocas do contrabando, e do bom acolhimento aos
refugiados durante a guerra civil de Espanha.
Num
congresso onde tanto se falou do oculto, relembrou-se a decisão do papa
Francisco que em Junho último autorizou o exercício do exorcismo. Introduziu-se
o desporto como factor integrante na medicina desportiva («free trail
running»), através da presença de um animado grupo de jovens atletas, que no
penúltimo dia promoveram provas demonstrativas com cerca de 400 aderentes,
usando as rotas do contrabando. Finalmente, clarificou-se a recente reedição do
Aparato Histórico sobre a santidade de Afonso Henriques, da autoria de José
Pinto Pereira, em 1728. Em 2013, no 27º congresso, foi ali anunciada a
redescoberta dessa tese de doutoramento que chegou até nós em latim erudito e
que o autor desta nota deu a conhecer em artigo inserto no jornal Notícias de
Guimarães em 7/10/2011.
O
juiz desembargador Narciso Machado publicou, em Maio último, um opúsculo onde
explica, antes que mais alguém o fizesse, e faz uma síntese historiográfica
desse «achado bibliográfico», de que resultou a tradução para Português.
Tivemos o gosto de mostrar aos participantes deste 28º congresso, as «provas do
crime».
Desta
última edição do Congresso de Medicina Popular não podemos deixar de referir a
apresentação do livro autobiográfico de Sónia Guerreiro, pseudónimo literário
de Deolinda Silva, a que chamou Pegadas que ficam. Natural de Vilar de
Perdizes, estudou em Chaves, trabalhou em Angola e aposentou-se como chefe dos
Serviços Administrativos da Escola Secundária de Ribeirão (V. N. de Famalicão).
Ligada, como dirigente, a diversos serviços, como a Cruz Vermelha de
Montalegre, Sónia Guerreiro, aliás Deolinda Silva, reapareceu em grande plano
com este seu terceiro livro e prepara já numa monografia da freguesia que o
Padre Fontes transformou na capital da medicina popular. O mau tempo que se fez
sentir prejudicou, substancialmente, os dois últimos dias. A compensar alguma
falta de público, avultou a qualidade organizativa. E lamenta-se o desinteresse
dos canais generalistas de televisão, em contraste com o destaque mediático de
outros tempos.
Barroso
da Fonte
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