O “choque de civilizações” não é de hoje, é de
sempre. Desde a revolução neolítica, momento em que surgem tal como as
conhecemos hoje, num processo longo, em períodos diferentes no planeta.
“Com mil ou dois mil anos de diferença, a
revolução neolitica desencadeou-se simultaneamente na bacia do Egeu, no Egipto,
no Próximo-oriente, no vale do Indo e na China” ( Claude Lévi-Strauss ). Ou
seja, não dependeu do génio de uma raça ou de uma cultura, mas sim de
“condições tão gerais que se situam fora da consciência dos homens” (Idem).
À Civilização assim formada, o homem foi
acrescentando particularidades que se prenderam com a geografia, a
religião, modos de vida e por aí
adiante.
Ora o conflito que hoje se vive no Iraque e na
Síria, provocado pelo ISIS, esse auto denominado obscuro e tenebroso
“Califado”, é muito mais do que um “choque de civilizações”.
O ISIS não depende de “condições
tão gerais que se situam fora da consciência dos homens”. Pelo contrário,
prende-se com condições especificas que
se situam dentro (no interior) da
consciência dos homens. Como nos é revelado por todos os sistemas totalitários,
por todos os movimentos terroristas e por todos os elementos de foro psicopata.
A condição humana desvalorizada porque se não “encaixa” nos seus sistemas
ideológicos e psíquicos, produz a destruição da própria natureza humana,
originando, atingidos os objectivos primários, a própria auto destruição,
provocada por elementos ora externos, ora internos.
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Com o ISIS nada disto acontece. Pelo contrário. O ISIS tem contornos estalinistas e nazistas; contornos de sistemas como o de Pol Pot, ou os movimentos de limpeza étnica como sucedeu no Congo, Ruanda e Darfur. E, de certa forma, com o movimento de Mao.
Os seus
contornos são tenebrosos e não serão tema para este espaço (por enquanto).
Por essa razão, contrariando opiniões
respeitáveis, observamos com legitimidade a formação de uma coligação internacional de nações que
“decapite” esse “califado” tenebroso, comandado por esse pseudo “califa” Abu
Bakr al-Baghdadi (natural de Samarra, no Iraque). Estão em causa valores humanos universais, desenvolvidos
durante milénios, pelos quais as sociedades livres sempre se regeram (embora
com casos de barbárie pelo meio).
A estratégia delineada pelo Presidente Obama,
foi, de facto, a mais inteligente: reunir uma coligação de nações e de
comunidades locais. À Inglaterra, à França e a outros países europeus,
juntaram-se agora a Austrália e a Arábia Saudita.
Outras questões poderão estar na mesa das
decisões, como por exemplo a reavaliação das actuais fronteiras dos Estados
formados após a Segunda Guerra ( problemática também levantada pelo general
José Loureiro dos Santos (Publico, 29 de Agosto).
É certo que a repartição geográfica depois da
Segunda Guerra Mundial, não respeitou os territórios tribais e as comunidades
religiosas. Em muitos casos foram divididas ao meio para formar os Estados na
sua forma actual. Aconteceu no Próximo Oriente, na Ásia e, sobretudo, na
África.
Mas esta questão só poderá ser discutida depois
da “decapitação” do ISIS.
Armando Palavras
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