A Grande Depressão em que a
América mergulhou, a seguir à crise bolsista de Outubro de 1929 [que originou
uma série de suicídios dos banqueiros responsáveis], provocou uma crise até aí
nunca vista. Milhões de desempregados (com fome) arrastavam-se pelo país sem
esperança, com a dor de alma de quem foi injustamente submetido a tais provações.
A grande narrativa que nos descreve com realismo e de uma forma desassombrada,
esta época, é o romance de John Steinbeck, “As Vinhas da Ira”.
A esperança americana renasce
quando Franklin Delano Roosevelt (que dirigiu o país nos anos de recuperação
económica) é eleito em 1932 (apesar de ter contraído poliomielite e ter
dificuldade em se aguentar em pé), determinado em resgatar o país do flagelo
que o tinha atingido.
A quatro de Março de 1933,
sessenta milhões de americanos ouviram-no através da rádio.
Esse famoso discurso, depois de
um breve intróito de quatro linhas, inicia-se da seguinte maneira: “ Este é,
mais do que qualquer outro, um tempo para dizermos a verdade, toda a verdade,
de maneira franca e ousada. E não devemos deixar de olhar de frente a situação
que o nosso país vive”. De seguida, profere a famosa frase sobre o medo. E a dada
altura, já na fase final do discurso, alerta: “[…] estou disposto, como é meu
dever constitucional, recomendar as medidas necessárias à recuperação de uma
nação abalada, num mundo abalado.
Se, porém, o congresso não aceder
a empreender qualquer destes cursos de acção, e o estado de emergência nacional
continuar a ser crítico, não fugirei ao nítido curso de acção que nessa altura
se me apresentará.
Solicitarei ao congresso um
último instrumento para a resolução da crise: […] um amplo poder executivo que
me permita travar uma guerra de emergência, um poder tão amplo como o que me
seria atribuído se fôssemos efectivamente invadidos pelo inimigo”.
O Supremo, de facto, travou-lhe
algumas propostas. Roosevelt contornou a situação, e o que o Supremo lhe havia
recusado pela força, acabaria por lhe dar de livre vontade, dada a emergência
da nação.
Não fosse a segunda guerra que,
através do fabrico de armamento criou milhões de postos de trabalho, e o
programa “New Deal” não tinha conseguido ultrapassar a situação de emergência,
com o boicote do Supremo a várias medidas propostas pelo presidente.
A situação de Portugal é de
emergência. Pretendem alguns sectores políticos irresponsáveis, com a “espuma
dos dias”, provocar uma crise ainda
maior do que aquela que já existe. As manifestações na rua (que não são a base
de coisa nenhuma) são nitidamente organizadas por sectores de oposição
governamental. Dizer que o povo está na rua contra o governo é patético.
Com a moção de censura do partido
socialista, à qual se junta toda a oposição de esquerda, pode bem o Governo. O
mesmo se não poderá dizer se o Supremo (Tribunal Constitucional – TC) puser em
causa as medidas que está a analisar. O chumbo de uma das medidas (por exemplo
a dos pensionistas) não faria grande mossa ao país, mas a haver outros, o
desastre é eminente.
Os juízes saberão o que decidir,
mas o país espera que não sejam o segundo coveiro da nação.
Se até aqui o governo tem
aguentado tudo com a inteligência e lucidez necessárias, a partir desse momento
deve fazer o que tem de fazer.
O país só então vai perceber no
atoleiro em que os partidos de oposição a este governo o meteram. Até porque o
povo está atento à crise do Chipre que, sem a ajuda da Europa, entrará em
colapso total: bancarrota.
Armando Palavras
Post scriptum
O Senhor Hollande, em campanha
eleitoral, disse as barbaridades que disse. Ganhou as eleições. Está a sujeitar
o país a uma maior austeridade que o presidente anterior, o senhor Sarkozi. E
só foram precisos três meses! E enquanto Sarkozi manteve sempre uma postura
vertical de igualdade perante o Sacro Império, o senhor Hollande, ajoelha-se.
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