Por: Costa
Pereira |
Em África é mesmo assim: não se mede
as distâncias por km, mas antes pela
hora de partida e da chegada. Após cerca
de duas horas de bom rodar, por uma estrada razoável e marginada por uma
sedutora e alargada paisagem rústica, deixamos para trás a capital de Cabo
Delegado (Pemba) para atravessada uma
bela ponte salazarista, sobre o rio Lúrio, entrar na província de Nampula. E daqui,
sempre rodando, para umas três horas mais tarde, chegar ao destino. Umas boas 5
a 6 horas de viagem!
O destino era a Ilha de Moçambique,
historicamente a mais importante cidade moçambicana que descoberta por Vasco da
Gama em 1498 passou desde então a ser ponto estratégico para iniciar a expansão
para outras regiões do país e por isso capital de Moçambique colonial até 1898,
altura em que Lourenço Marques, hoje Maputo, lhe tomou privilégio.
Com 3,2 km de comprido por 350 a 500m
de largo e ocupada por uma população de cerca de 18.000 habitantes, esta pérola
moçambicana do Indico que deu hospedagem a Camões e dista cerca de 2.000km do
Maputo, é Património Mundial da Humanidade, mas nem por isso as obras de
conservação e recuperação do património construído e natural aceleram mais o
passo, devolvendo à Ilha o prestigio devido. Lamentavelmente não diz a letra
com a careta…
O ser humano é por natureza dominador
e dentro da sua espécie faz luxo em demarcar espaços e diferenças sociais, que
na Ilha de Moçambique resultaram no fundar uma cidade com dois tipos de
construção urbana.
A
Fortaleza de São Sebastião, com a igreja de NS do Baluarte anexa,
constituem o mais importante monumento histórico da Ilha de Moçambique. Dispõe
no seu interior além da ermida, de uma enorme cisterna com capacidade para
reter cerca de 2 mil pipas de água pluvial que foi a arma usada pelos
portugueses contra os holandeses que sem o precioso liquido para durante o
cerco se saciarem acabaram por se retirar vencidos em 1607.
A parte norte da ilha com a fortaleza
de São Sebastião e o Palácio de São Paulo entre os principiais edifícios,
constitui a chamada cidade de "pedra e cal"; enquanto a parte sul,
delimitada pela igreja de Nossa Senhora da Saúde, e tendo de mais realce o
fortim e a igreja de Santo António, é caracterizada pelas cercas e cobertura
das habitações em macúti, folha de palmeiras.
Da cultura e da obra construída
durante a ocupação portuguesa têm os moçambicanos consciência e as altas
esferas da cultura universal também o reconhecem, de tal modo que desde 1991
temos a ilha classificada pela UNESCO de património cultural da humanidade.
Não têm por isso, os portugueses,
nada a ver com a destruição e desleixo que fui encontrar nesta minha visita à
ilha que deu o nome a Moçambique, e como li em Jornal de Noticias local de 12
de Set. de 2009 transcrevo: " a melhor vacina contra a guerra está na cultura e na arte". Também lá
vinha: "A ilha de Moçambique
continua a não se aguentar , com a
sua coluna vertebral sempre a curvar em direcção à sua queda de velhice. Tanto
se diz mas não parece que haja algo
concreto para adiar a morte natural da primeira capital do nosso País". - É um moçambicano que fala
e por isso está tudo dito...., digo eu.
Com 3,5k de cumprimento esta ponte que liga a
Ilha à terra firme é maior do que a própria ilha; ao atravessá-la pela primeira vez senti um vaidoso
sentimento de portugalidade, e veio-me à mente o Homem das grandes pontes
portuguesas : Arrábida (Porto), Salazar (Lisboa), Marechal Carmona ( FV de Xira)e entre outras, também
esta, em 1966, na Ilha de Moçambique.
(Fotografias de Costa Pereira)
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