terça-feira, 5 de junho de 2012

Na Ilha de Moçambique


Por: Costa Pereira
Portugal, minha terra.
            Em África é mesmo assim: não se mede as distâncias por km, mas antes  pela hora  de partida e da chegada. Após cerca de duas horas de bom rodar, por uma estrada razoável e marginada por uma sedutora e alargada paisagem rústica, deixamos para trás a capital de Cabo Delegado (Pemba)  para atravessada uma bela ponte salazarista, sobre o rio Lúrio, entrar na província de Nampula. E daqui, sempre rodando, para umas três horas mais tarde, chegar ao destino. Umas boas 5 a 6 horas de viagem!
          O destino era a Ilha de Moçambique, historicamente a mais importante cidade moçambicana que descoberta por Vasco da Gama em 1498 passou desde então a ser ponto estratégico para iniciar a expansão para outras regiões do país e por isso capital de Moçambique colonial até 1898, altura em que Lourenço Marques, hoje Maputo, lhe tomou privilégio.
         Com 3,2 km de comprido por 350 a 500m de largo e ocupada por uma população de cerca de 18.000 habitantes, esta pérola moçambicana do Indico que deu hospedagem a Camões e dista cerca de 2.000km do Maputo, é Património Mundial da Humanidade, mas nem por isso as obras de conservação e recuperação do património construído e natural aceleram mais o passo, devolvendo à Ilha o prestigio devido. Lamentavelmente não diz a letra com a careta…
          O ser humano é por natureza dominador e dentro da sua espécie faz luxo em demarcar espaços e diferenças sociais, que na Ilha de Moçambique resultaram no fundar uma cidade com dois tipos de construção urbana.
        A  Fortaleza de São Sebastião, com a igreja de NS do Baluarte anexa, constituem o mais importante monumento histórico da Ilha de Moçambique. Dispõe no seu interior além da ermida, de uma enorme cisterna com capacidade para reter cerca de 2 mil pipas de água pluvial que foi a arma usada pelos portugueses contra os holandeses que sem o precioso liquido para durante o cerco se saciarem acabaram por se retirar vencidos em 1607. 
          A parte norte da ilha com a fortaleza de São Sebastião e o Palácio de São Paulo entre os principiais edifícios, constitui a chamada cidade de "pedra e cal"; enquanto a parte sul, delimitada pela igreja de Nossa Senhora da Saúde, e tendo de mais realce o fortim e a igreja de Santo António, é caracterizada pelas cercas e cobertura das habitações em macúti, folha de palmeiras.
          Da cultura e da obra construída durante a ocupação portuguesa têm os moçambicanos consciência e as altas esferas da cultura universal também o reconhecem, de tal modo que desde 1991 temos a ilha classificada pela UNESCO de património cultural da humanidade.
          Não têm por isso, os portugueses, nada a ver com a destruição e desleixo que fui encontrar nesta minha visita à ilha que deu o nome a Moçambique, e como li em Jornal de Noticias local de 12 de Set. de 2009  transcrevo: " a melhor vacina contra a guerra está na cultura e na arte". Também lá vinha: "A ilha de Moçambique continua a não se aguentar , com a sua coluna vertebral sempre a curvar em direcção à sua queda de velhice. Tanto se diz mas não parece que haja algo concreto para adiar a morte natural da primeira capital do nosso País". - É um moçambicano que fala e por isso está tudo dito...., digo eu.
           Com 3,5k de cumprimento esta ponte que liga a Ilha à terra firme é maior do que a própria ilha;  ao atravessá-la pela primeira vez senti um vaidoso sentimento de portugalidade, e veio-me à mente o Homem das grandes pontes portuguesas : Arrábida (Porto), Salazar (Lisboa), Marechal  Carmona ( FV de Xira)e entre outras, também esta, em 1966, na Ilha de Moçambique.



(Fotografias de Costa Pereira)




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