terça-feira, 23 de agosto de 2011

A BALADA DE READING GAOL - Oscar Wilde


Oscar Wilde quando chegou à América
 de capa e chapéu
Óscar Wilde (1854-1900) nasceu em Dublin[1]. Cultivou uma aparência espalhafatosa, tornando-se uma celebridade muito antes da escrita o consagrar. Foi poeta, dramaturgo, aforista, romancista e escritor de histórias infantis. Foi esteta, vítima de preconceito e hipocrisia. Amante do paradoxo e conhecedor dos absurdos da vida, viveu como quis.
O Retrato de Dorian Gray, talvez o seu romance mais conhecido, publicado em 1889, forçou os limites da respeitabilidade com os seus temas da decadência, da crueldade e do amor ilícito.

Wilde foi condenado a dois anos de prisão de trabalhos forçados por actos imorais, em Maio de 1895. A pena foi cumprida em Reading Gaol.  O soldado Charles Thomas Wooldridge, seu colega de prisão, foi condenado, por ter assassinado a mulher, cortando-lhe a garganta com uma navalha. Pelo facto foi enforcado. Foi a Charles Thomas Wooldridge que Óscar Wilde dedicou a sua última grande obra, a elegíaca Balada de Reading Gaol. Que escreveu no exílio, em França, após a sua libertação, em 1897. Devido à notoriedade do seu nome, o poema foi publicado sob pseudónimo: “C.3.3”[2].
Ao contrário de De Profundis que escreveu na prisão revoltando-se contra a traição do seu amante[3], a Balada de Reading Gaol exprime uma ânsia de inocência, de beleza e de redenção mesmo no meio do desespero, pedindo compreensão e perdão ao mesmo tempo.
Por ser enorme, apenas transcrevemos dois hexâmetros:  o 3º e o último[4].

[… ]

Nunca vi um homem que olhasse
Com um olhar tão melancólico
Para aquele pequeno toldo azul
A que os prisioneiros chamam céu,
E para cada nuvem flutuante que
Com velas de prata passasse

[… ]

 E o poema conclui:


Newgate: Pátio do Recreio - Gustave Doré - Crueldade
numa prisão vitoriana

E todos os homens matam aquilo
que amam,
Que todos ouçam isto,
Uns fazem-no com olhar amargo,
Outros, com uma palavra lisonjeira,
O cobarde fá-lo com um beijo,
O homem bravo com uma espada!


Armando Palavras



[1] Terra de outro gigante da literatura universal: James Joyce, autor de Ulisses.
[2] Que era o seu número de prisão.
[3] A homossexualidade de Wilde tornou-se tão famosa como a sua obra. Casado e com filhos, depois de o casamento ter corrido mal, aos trinta anos tinha uma relação com lorde Alfred Douglas (Bosie).
[4] Chamamos a atenção para as várias traduções. São muito diferentes umas das outras. Por isso os transcrevemos na língua original:

I never saw a man who looked
With such a wistful eye
Upon that little tent of blue
Which prisoners call the sky,
And at every drifting cloud that went
With sails of silver by.

[…]

And all men kill the thing they love,
By all let this be heard,
Some do it with a bitter look,
Some with a flattering word,
The coward does it with a kiss,
The brave man with a sword! 

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