quarta-feira, 11 de julho de 2018

Não discuto o mérito, mas o deslumbramento




BARROSO da FONTE - Noticias de Barroso


Não discuto o mérito, mas o deslumbramento. Num desses itens daquela minha crónica disse que não concorri, nem irei concorrer a esse prémio, em anos futuros, pelo valor que representa numa câmara de orçamento tão débil. Vivo num concelho com personalidades de craveira internacional. Cito dois exemplos: Alberto Sampaio e Alfredo Pimenta. Ambos se formaram e deixaram nome na Universidade de Coimbra, no século XX. Ambos são patronos de Instituições públicas, com dezenas de obras científicas, não só na sua Cidade Berço, mas em várias cidades desde Lisboa, a Braga, a Viseu. Sobre ambos foram criados prémios literários. Cada um destes Vimaranenses, dos maiores do seu tempo e pelos contributos inovadores ao País e à História Universal foram Instituídos prémios de craveira nacional. O prémio Alberto Sampaio, foi revisto e aumentado de 500 euros para 6.000 euros, sendo comparticipados em 3000 pela Câmara de Guimarães (onde nasceu) e mais 3000 pela Famalicão (onde mais tempo viveu).
O referente a Alfredo Pimenta consiste no custo da publicação da obra distinguida pelo Júri nacional. O 1º ano coube esse prémio ao decano da História de Portugal, José Mattoso. Se o leitor se der ao cuidado de comparar montantes, em prémios literários, em municípios, em instituições culturais, em tertúlias artísticas e com fins laudatórios, pelo esforço conjugado de cidadãos credores de apreciação pública, depois de mortos, conclui-se que não se atribuem prémios incomportáveis, mas sim símbolos, lápides, confraternizações culturais, desportivas ou recreativas em que se relembrem esses cidadãos, que passaram pela vida a inovar, a bem-fazer, a gerar progresso e bom ambiente social.
 Importará mais valorizar o exemplo, através de citações que não custam dinheiro, do que gastar aquilo que não se tem, ou que faz mais falta para matar a fome a quem nada recebe.
António Macedo, (1931-2017) foi um exemplo de cidadão do mundo que deixou rastos de bondade. Também as autarquias a que esteve ligado criaram um prémio para o recordar, em 24 de Outubro próximo. Mas fazem-no, colocando as Escolas do seu meio, a falar dele, do que fez de bem. E os três prémios pecuniários serão simbólicos: de 750, 500 e 250 euros, respetivamente. Os mortos não se honram com dinheiro que faz muita falta aos vivos que não o têm pela injustiça social.
O mesmo fez Portimão, em homenagem ao humanista e pedagogo Manuel Teixeira Gomes, que apostou na juventude estudantil que pode concorrer, anualmente, com um livro. A Câmara paga a edição desse livro que distribui pelas escolas e adiciona 500 euros para compensar o esforço do autor.
 Na referida crónica falei de um prémio atribuído, em 1995, ao celebrado autor do livro «Vítor Branco Escritor Barrosão – vida e obra». As circunstâncias que rodearam essa atribuição, geraram um ambiente que até hoje ficou irrespirável, tanto mais que foi repercutido no Correio do Planalto. Ao longo de seis páginas, esperei ver clarificado, nos trabalhos concorrentes, o gordo prémio anual de 10 mil euros – felizmente distribuídos por dois concorrentes, um dos quais, natural de Montalegre – mas ficou tudo na mesma.
 Num concelho em que há gente esfomeada, no desemprego, sem assistência médica e sem qualquer apoio social, atribuir todos os anos, dez mil euros a um vulgar cidadão que já partiu e que criou tantos amigos, como inimigos, é uma afronta aos enjeitados da sociedade que não têm dinheiro para uma prótese dentária, nem para cortar a barba e o cabelo. A uns oferecem-se casas de raiz, a custar cem mil euros, inauguradas com pompa e circunstância, com mediatismo ilustrado e com auto-elogios oficiosos costumeiros. Não seria preferível gastar esses dez mil euros com cidadãos rejeitados pelo destino, pela sociedade e pela pouca sorte que - infelizmente – vegetam um pouco por todo o concelho?

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