Catarina Martins comunicou ao povo deslumbrado que não
havia liberdade sem igualdade. Em 1793 Robespierre disse exactamente o mesmo e
começou logo a cortar cabeças. A nossa Catarina, na sua imensa moderação, ainda
não cortou a cabeça a ninguém. Mas sempre vai espicaçando o governo e o
Presidente da República para tornarem Portugal inabitável e paralítico. As
criaturas que hoje nos governam não podem ver um tostão a ninguém. Marcelo anda
por aí a fazer propaganda contra os gestores que ganham muito, e suponho que
está a chocar uma lei para acabar com essas imundas sanguessugas dos pobres. Pensa
ele que se trata de uma questão de moralidade. Pensa mal. Do que se trata é da
nobre inveja lusitana e do horror por qualquer manifestação de inteligência,
habilidade e saber. A igualdade também não entra nesta sopa turva.
Se entrasse ficava por esclarecer por que razão o
Estado se preocupa tanto com os funcionários públicos, com as carreiras dos
funcionários públicos e com os salários dos funcionários públicos. Mais: não há
nenhum princípio, reconhecido ou inventado, que obrigue o contribuinte a garantir
a segurança de emprego a quem quer que seja; estas ansiedades reflectem
sobretudo o ideal de uma vida sem obrigações, nem sobressaltos, que não implica
qualquer espécie de competição e em que a antiguidade se venera e premeia. Nada
que não apeteça a uma actriz, originária do teatro subsidiado e aos fantasmas
da universidade, que gostam muito de dar aulas, mas nunca publicaram nada que
se lesse.
Esta compressão de Portugal – que as leis do trabalho
se destinam a completar – deixa de fora o essencial: as virtudes de uma
sociedade produtiva, capaz de se adaptar à mudança do mundo. A propriedade, o
lucro, o risco, a invenção, e a ruptura com os métodos tradicionais não se
encontram em indivíduos com protecção estatal e corporativa. Talvez se encontre
nos precários que não querem um contrato perpétuo e a quem não interessa em
especial o respeito do Portugalinho que o dr. António Costa laboriosamente nos
prepara. As coisas – principalmente a imprensa e a televisão – começam a
adquirir aquele tom uniforme e ruço, típico da tropa e do socialismo.
Sem comentários:
Enviar um comentário