quinta-feira, 24 de março de 2016

A ceia da Páscoa

Tilman Riemenschneider, Última Ceia, painel central do retábulo do Santo Sangue, 1499-1504, São Jacob, Rothenburg ob der Taube

A Páscoa que no período pré-mosaico era uma festa dos pastores no inicio da Primavera, para os Cristãos passou a ser o momento de celebrarem a ressurreição de Cristo. Um dos momentos descritos nos evangelhos é a Última Ceia, que os Cristãos celebram na Quinta-feira.
A ceia é um dos momentos mais importantes da narrativa evangélica. É ela que institui um dos principais sacramentos da liturgia cristã: a Eucaristia[1].
Iconograficamente, esta ceia realizada em Jerusalém, a última com os doze Apóstolos antes da traição de Judas, é bem diferente das outras descritas nos relatos evangélicos.
Como era costume entre os judeus, Jesus e os seus Discípulos dirigiram-se a Jerusalém para celebrarem a Páscoa[2].
Nos relatos evangélicos (Math. XXVI, 20-29; Marc. XIV, 10-25; Luc. XXII, 14-23; Joh. XIII, 21-38) estão bem patentes três grandes questões: o anúncio da traição[3]; a instituição mística da Eucaristia, repetida no rito da missa católica e o adeus aos Apóstolos, descrito por João (Joh. XIII, 31-38); aos onze que restam depois de Judas sair para cumprir a sua traição. O número de comensais não é preciso, depreendendo-se que apenas tenha sido realizada por Cristo e pelos doze Apóstolos.
Além de Judas, o outro apóstolo destacado foi sempre João, normalmente representado junto ao peito do Mestre. Atitude apenas mencionada no Evangelho de João (XIII, 23) e imposta pela tradição, também confirmada na literatura apócrifa[4].


[1] O momento em que Jesus, simbolicamente através do pão e do vinho, oferece o seu corpo e o seu sangue aos Apóstolos (Math. XXVI, 26-29; Marc. XIV, 22-25; Luc. XXII, 19-20). João, o mais simbólico dos evangelistas, é omisso quanto à Santa Ceia Sacramental. Nesta ceia sacramental se inspirou a segunda iconografia da Santa Ceia (capela-mor), concebida simbolicamente como a Comunhão dos Apóstolos, ou por outras palavras, a Instituição do Sacramento da Eucaristia e do Sacrifício da Missa. É assim, o símbolo do Sacramento da Comunhão.
[2]Em rigor, havia duas festas distintas: a Páscoa, que só durava um dia, e a Festa dos Pães Ázimos, que durava os sete dias seguintes.
[3]O relato de João, em certos detalhes, não coincide com os relatos sinópticos. Para Mateus, o traidor é o que mete a mão no prato. De acordo com Lucas é o que tem a mão sobre a mesa. No Anúncio da Traição de Judas, João (XIII  -29) descreve-o com a bolsa e faz referência àquele a quem Jesus deu o pão ensopado (XIII- 26).
[4] No Livro do Descanso (42-45), Maria já próxima da morte, dirigindo-se a João o primeiro apóstolo a chegar, lembrou-lhe que Jesus o amara mais do que aos outros. Mais recentemente James D. Tabor, em A Dinastia de Jesus (A Esfera dos Livros, Lisboa, 2006, p. 301), refere outras tradições sobre Tiago, o Justo, conhecido na comunidade primitiva cristã como o irmão do Senhor, sustentadas pelo Evangelho de Tomé e pelo Evangelho dos Hebreus.

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