segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Os presidenciáveis, os recrutas e os generais


Barroso da Fonte
É inevitável falar do miserabilismo político que acaba de viver-se em Portugal. Alguns comentadores chamaram-lhe um fenómeno vazio de ideias, outros uma pobreza franciscana, e, mais alguns, interpretaram-no como um velório carnavalesco.
  Não foi moralizador, muito menos educativo e, menos ainda, pedagógico, porque  estavam em campo cinco doutorados, dois deles catedráticos. Pretendia eleger-se o super-sumo da inteligência num país com quase nove séculos de história. É uma eleição fundamental. Mas o que se viu e ouviu foi muito pobre, de muito baixo nível e  sem nada de novo que justifique trocar o certo pelo duvidoso, a realidade pela aventura.
  Se me perguntassem qual dos dez desempenhou melhor o seu papel, eu diria que foi o Tino de Rãs. Exatamente porque a campanha esteve muito mais ao seu nível, do que ao nível dos  «doutores». De resto, aos olhos de quem os acompanhasse, a partir do espaço, daria o prémio de vencedor  ao Tino de Rãs, porque foi aquele que mais se riu e fez rir, aquele que deu a volta ao país numa só viatura emprestada ou paga a prestações, já que 50 mil euros que programou para a campanha, não davam para mais. Comparada essa verba com os 750 mil euros de Sampaio da Nóvoa, é quase ridícula.
   Todos quiseram ser comedidos, prometer tudo a todos, mesmo sabendo que um Chefe de Estado, nunca poderá  decidir sobre benefícios. Depois da farsa adúltera, parida em 4 de Outubro, com  toda a esquerda em algazarra e aos beijinhos, qualquer PR tem a vida facilitada. Nenhum dos dez, mesmo que tenha vontade de não promulgar o orçamento ou de derrubar o governo, terá coragem de o fazer.  Cairá o Carmo e a Trindade. É óbvio que só um deles poderá ser eleito.. Mas aquele que as sondagens apontam como mais provável, já elogiou o atual governo, tranquilizando o seu chefe. Por isso Marcelo já antecipou a decisão favorável para os quatro anos de mandato.
   O chefe do governo, além da rasteira que passara ao camarada António José Seguro, repetiu o golpe ao apoiar Sampaio da Nóvoa. Este, à boa maneira da «auréola do heroísmo na luta antifascista, que Camilo Mortágua apregoava aos muitos jovens que se aproximavam da LUAR, a única organização a que estive ligado, muito por via do Zeca Afonso», como se lê na página 100 da biografia de Nóvoa, assinada por Fernando Madaíl, congregou à sua volta o «rebusco» da sociedade. À imagem da pescaria tudo o que vier à rede é peixe. As convicções ficam em casa.
António Costa antecipou-se, no apoio a este intelectual, no convencimento de que seria o homem certo para ganhar a PR, numa provável segunda volta. E traiu Maria de Belém. Como não há duas sem três, se Marcelo ganhar à 1ª volta, o PS de Manuel Alegre, de Jorge Coelho, de Vera Jardim  e de outros varões socialistas, vai partir a louça.
  Sampaio da Nóvoa foi quem mais atacou: Marcelo e Maria de Belém. É preciso ter alguns laivos de cinismo para usar a «Constituição da República», como seu programa presidencial, tentando rebater Marcelo ou Maria de Belém que desde a Constituinte, até hoje, com ela se debateram em diálogos acalorados, em situações essenciais, em pareceres técnicos que prevalecem. E, mais do que cínico, chegou a ser infantil para com o comentador da TVI por este usufruir do mediatismo televisivo. Mas Nóvoa não  usufruiu do mediatismo reitoral que lhe adveio dessa função? Não terá sido por isso que Cavaco lhe preparou o palco mais apetecível, no 10 de Junho de 2012, quando proferiu o discurso no Dia de Portugal? Não estará Sampaio da Nóvoa a ser ingrato para com Cavaco ao acusá-lo de que desprestigiou o cargo? Mas não foi nesse dia e com esse discurso que ganhou a vocação política para deixar de ser soldado recruta para ser o chefe supremo das Forças Armadas? Não foi ele que trouxe esse chavão para a campanha?
Acaso não foi na quadratura do circulo, da SIC, que António Costa se notabilizou?
 Sampaio da Nóvoa, a meio da campanha, quando se apercebeu de que Maria de Belém estava à sua frente nas sondagens, redobrou o nervosismo, deixou cair o verniz e tentou ser o vice-campeão da 1ª volta para marcar terreno na 2ª. Como ele não foi à tropa  e pouco saberá da poda, incumbiu um capitão de Abril, hoje graduado em general, seu mandatário por Viseu, de acusar Marcelo, que tinha 25 anos, quando se deu o 25 de Abril e que não foi à tropa por ser filho do ministro do Ultramar. Este insulto provindo do mandatário de Nóvoa, resvalou, de ricochete, contra o candidato que tinha 20 anos e padecera da mesma proteção. E que culpa teve Marcelo de não ser convocado, se Jorge Sampaio, Freitas do Amaral e vários outros, também não foram tropas por influência paterna e  são tidos como os pais da democracia portuguesa? Quem acusa quem? Pretendia Nóvoa ser general com base no estatuto do seu mandatário? Já um dos dez candidatos, também da área do PS, veio acusá-lo de que pelo facto de não ter sido tropa, não tem moral para ser o chefe supremo das forças armadas.
Alguns doutoramentos obtêm-se pelo estatuto do honoris causa. Mas o generalato só em revoluções como a do 25 do Abril. E Nóvoa não esteve lá. Resta saber porquê e com que base acusa o seu colega Marcelo Rebelo de Sousa. O juiz será o povo no próximo domingo.

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