segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Castanhas do Natal sabem bem e partem-se mal

Jorge Lage
 A venda da castanha é um «mundo cão» para os produtores. Os ajuntadores ou intermediários costumam-se reunir nas imediações da Sortegel em que costuma aparecer um ou outro «compadre» ligado à universidade e depois combinam como esmagar os pequenos e médios castanhicultores. Houve quem na universidade ou politécnico se deslumbrasse com o dinheiro gerado da plantação de novos soutos e os movimentos em milhões de euros do mercado da castanha. Começaram a chamar nomes feios à castanha sem perceberem que qualquer grande negócio agrícola poderá ser explicado por qualquer dos bons merceeiros com uma folha de deve e haver. Certo é, que este ano (2015) o preço da castanha em Portugal rebentou como uma castanha na fogueira do magusto. A Itália terá tido sucesso no combate à doença da «Vespa das galhas do Castanheiro» e aumentou a produção de castanha, tal como a França, que até terá importado do Chile. Para piorar, a Turquia terá vendido uns milhares de toneladas na Europa. O mercado lusitano da castanha tremeu e os preços caíram como castanha madura em dia de vento e chuva. Certo é que a Castanha Martaínha, a melhor de Portugal se chegou a vender a 0,90 €/Kg e a belíssima castanha do vale de Bestança/Cinfães a 0,40 €/Kg. Há 15 anos que luto para que a castanha portuguesa entre mais no mercado interno (restauração e lares). Contrariamente, alguns «génios» da UTAD ou perfilados em associações próximas dos fundos de Bruxelas apostam nas vendas de castanheiros por viveiristas próximos. Sobre a praga da «Vespa das Galhas do Castanheiro» parece que estiveram à espera que chegasse a Portugal para arranjarem Programas financiados para alguns empacotarem euros. Se a doença era conhecida, pelo menos desde 2002 em Itália, avisado seria haver medidas de prevenção para dificultar a entrada da praga em Portugal. Voltando à estratégia de valorização da castanha em Portugal, desde finais da década de noventa que pedia mais consumo interno. Por isso, abracei a causa da divulgação de receitas com castanhas, a fim de entrarem nos lares e restauração, publicando o livro «A Castanha - Saberes e Sabores», em 2001. O livro foi adoptado na Escola Superior de Hotelaria de Cascais e outras como de consulta obrigatória. Seguiu-se «Castanea uma dádiva dos deuses», em 2006 e «Memórias da Maria Castanha», em 2013. E preparo o 4.º livro e último sobre o tema, a sair dentro de alguns meses. Pelo meio criaram-se três Confrarias da Castanha: Confraria da Castanha (Carrazedo de Montenegro/Padrela – Valpaços e desactivada), Confraria dos Soutos da Lapa e Confraria Ibérica da Castanha (Bragança). Sugeri e ajudei a promover alguns concursos gastronómicos para difundir e criar receitas com castanhas na restauração e nos lares. Hoje, entendo que é urgente aumentar o consumo interno de 10% da produção da nossa castanha para 30%. Um doutoramento no Politécnico de Viseu sobre o valor alimentar da castanha esteve no bom caminho e na UTAD, o livro «Castanha um fruto saudável» (que prefaciei) ajudaram à divulgação e valorização da castanha.


2 comentários:

  1. Boa tarde
    Não se percebe bem afinal o que pretende com a sua publicação, e o que na verdade esta pode ter a ver com o título apresentado - Castanhas do Natal sabem bem e partem-se mal.
    Resta-me a duvida se na verdade gosta mesmo dos castanheiros, ou se apenas se interessa pela publicação das suas receitas gastronómicas. Caso o interesse seja apenas na publicação das suas receitas gastronómicas, poderemos sempre pedir à REFCAST que na sua próxima publicação de um livro de castanheiros lhe possa reservar algumas páginas (muitas), para que aí ao lado de muitos outros interessados da cultura da castanha, possa também partilhar a sua sabedoria.
    Infelizmente estamos num país que se não se faz nada, todos se queixam, se alguém aparece a fazer, lá vem um ou outro queixar-se de interesses envolvidos, porque se o esqueceram de convidar para participar também.
    A venda da castanha é um fenómeno difícil de explicar, o preço de um ano, não deve servir de referência para o outro, e os agricultores devem ter a noção exata do valor do produto que comercializam, e não estarem à espera de valores especulativos.
    Ainda bem que existem empresas como a SORTEGEL, a AGROAGUIAR e outras, pois estas fazem com que o mercado possa estar mais estável, garantindo aos agricultores a comercialização do seu produto. É impensável nos dias de hoje pensar que o mercado da castanha ainda se pudesse processar como há 20 anos. Há falta de concentração de produto, e estas empresas vêm de alguma forma garantir essa mesma capacidade que os agricultores per si nunca teriam.
    A VESPA, chegaria sempre a Portugal, mais ano menos ano chegaria. NÃO foram os viveiristas nem os senhores das universidades que facilitaram a sua vinda. As orelhas moucas de muitos produtores que ilegalmente compraram plantas aonde não deviam (Espanha e França), sabendo o risco que corriam, pela vontade em fazer novas plantações. Naturalmente que depois de cá estar, devemos agradecer a essas mesmas instituições o que têm feito para a controlar. Só pode mesmo ser de má fé, que pode dizer "....para arranjarem Programas financiados para alguns empacotarem euros."
    A rapidez com que a DRAPN, a REFCAST e as Universidade, responderam, vai ficar na história da Fitossanidade deste país, pois em nenhum outro país a reacção foi tão célere. NÃO ACREDITA QUE SE ENVOLVÊSSEMOS O PAÍS NUM TIPO DE FILME PLASTICO, ASSIM EVITARIAMOS A ENTRADA DA PRAGA...espero bem que não, porque isso seria revelador de uma ignorância que nem quero imaginar.
    Entre um cego e um ignorante vai uma grande diferença. O cego não pode ver e tem essa limitação natural, o ignorante só o é porque quer.....e é IGNORÂNCIA A MAIS não reconhecer o trabalho de tanta gente em volta do castanheiro, desde as universidades na procura de solução para diversos problemas que afectam os nossos castanheiros, na fertilidade dos soutos, novas formas de condução, na pesquisa de novos porta-enxertos resistentes à doença da tinta, selecção de novos clones das variedades Longal, Judia e Martainha entre outras etc etc.....bem como de alguns viveiristas, na produção de porta-enxertos resistentes à doença da tinta, no fornecimento de material de qualidade, certificados pelas instituições nacionais.
    APENAS concordo quando diz que efectivamente se deveria aumentar o nosso consumo interno de castanha, até como uma boa opção por um produto de qualidades reconhecidas.

    PERCEBI A SUA PREOCUPAÇÃO, SOBRE AS CASTANHAS NO NATAL, NADA DISSE, MAS TERMINA POR PUBLICITAR UM 4º LIVRO DE RECEITAS, SOBRE UM PRODUTO QUE NÃO DEVE GOSTAR MUITO, porque senão não se manifestava tão contra a manutenção da espécie no nosso país, à custa de muitas e novas plantações....nem contra as tantas instituições que tanto fazem na defesa desta cultura.
    A CULTURA DO MAL DIZER DOS OUTROS, é uma cultura com a qual convivemos todos os dias, mas não é esta seguramente que faz com que as coisas avancem. A CULTURA do FAZER, PROMOVER e GOSTAR das coisas é mais importante, portanto ainda esta a tempo de fazer algo por uma cultura da qual DIZ GOSTAR.

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    Respostas

    1. Boa Tarde!
      Lembro, desde já, que vou ser breve por respeito aos leitores e aos meus compromissos. E não é minha postura usar grosserias de letras que poderão ser sinal de desrespeito para quem lê ou quem recebe.
      A minha pequena nota apenas procura ser pedagógica e informativa.
      Sobre o título, «castanhas do Natal sabem e partem-se mal», um nosso grande escritor mais da segunda metade do século XX, considera os rifões tão importante como alguns «tratados filosóficos».
      Quando fazemos certos juízos de valor de foro íntimo, geralmente, medimos os outros por aquilo que somos ou que gostaríamos que eles fossem.
      Não sei o que o leva «a tomar a nuvem por Juno». As obras valem o que valem e quem lhe dá valor ou não são os leitores, como disse um grande escritor luso-argentino.
      Ainda bem que não leu os meus livros e assim pode soltar assas à sua imaginação e sonhar só com «receitas gastronómicas» e depois até concorda comigo que se devia aumentar o consumo.
      De facto, em cada dia da minha vida tento ser um pouco menos ignorante e tenho a noção aproximada das minhas limitações.
      Aí está um bom assunto para tratar, o preço da castanha na campanha de 2015. Talvez a gastronomia e mais criatividade ajudassem um pouco.
      Todas as empresas da castanha fazem falta ao sector, sejam produtoras, transformadoras ou distribuidoras. Falar nas imediações duma empresa não é a mesma coisa que falar nela. Depois cola-lhe mais um nome de uma empresa por quem, também, tenho muito respeito e muita amizade por pessoas a ela ligadas e só ainda não a visitei por não ter surgido a oportunidade.
      Se não consegue saber como tem estado o preço da castanha não sou eu leigo no assunto que lhe vou explicar. O preço da castanha até parece que segue a lógica do «petróleo».
      Há mais de 12 anos que a «Vespa das galhas do castanheiro» faz estragos na Europa e em Portugal já estará, segundo as minhas fontes, há mais de quatro anos. Por vezes temos de colocar força nas palavras para se conseguir melhores resultados na escrita. Neste caso para se dominar a doença. Em meu entender temos a sensação que se combateram outras pragas fitossanitárias com mais energia do que esta.
      Quando discordamos das opções de alguns professores de uma universidade, não se estão a referir as opções de todos e muito menos de todas as universidades. Aliás, quando apresentei o meu 2.º livro sobre a castanha, em 2007, em Vila Real, tive na assistência 6 professores da universidade e na despedida um deles teve a gentileza de me agradecer, porque já tinha bibliografia sobre a castanha para indicar aos alunos. Outra professora da universidade disse-me que tinha o livro na mesinha de cabeceira e não foi a única do meio académico.
      Um livro que ainda está a ser trabalhado ou formado e já dizer mal dele na forma de escrita que apresenta, quer no que afirma, não será por cegueira, leva-me a concluir que ao convidar-me para eu escrever em livros de sábios ou de génios era para não levar a sério. Depois mostra ignorância, até, em relação ao terceiro.
      O meu gostar tem por trás investigar, observar, ouvir e pedir ajuda, mas às vezes ouvimos o que não queremos e sentimos que grande parte da memória imaterial de um mundo mágico se está a perder para sempre.
      Amanhã é dia de trabalho.
      Boa noite!

      12JAN2016
      Jorge Lage

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