Ntónio José Saraiva - in: Jornal Sol |
A coisa já foi dita e redita, mas há que
sublinhá-la.
António Costa achou curta a vitória de
António José Seguro nas europeias e propôs-se ganhar as legislativas por
‘muitos’. Era este o seu objetivo – e a sua promessa aos socialistas.
Ora, sucede que António Costa não
conseguiu ganhar por muitos, nem por poucos, nem sequer conseguiu ganhar, nem
perder por poucos – perdeu por muitos.
Tendo falhado rotundamente o seu próprio
objetivo, o natural era António Costa demitir-se. E não o digo levianamente.
Fui contra a demissão de Ferro Rodrigues da liderança do PS, fui contra a
demissão de Guterres do Governo, fui contra a demissão de Jorge Coelho depois
do desastre de Entre-os-Rios. Mas aqui era uma questão de coerência e
dignidade.
António Costa não o fez, porém. Mas não
contente com isto – e na melhor tradição comunista – propôs-se transformar uma
derrota nas urnas numa vitória nas palavras. E teve a coragem de dizer que a
coligação de direita foi a grande derrotada pois “teve o segundo pior resultado
de sempre”.
Espantoso!
Costa não vê as consequências do que
disse? Não percebe que, se a coligação teve o segundo pior resultado de sempre,
o facto de o PS ter perdido ainda é mais humilhante para ele? Se a coligação
teve um resultado péssimo e mesmo assim ganhou, como classificar o resultado do
PS? E atenção: o PS não perdeu só com a coligação, perdeu também com o PSD, que
teve maior número de deputados.
Ou seja: António Costa perdeu em relação
aos objetivos que traçou, perdeu com uma coligação que teve um mau resultado, e
perdeu ainda com o PSD, que ficou à sua frente.
É este homem que, por milagre de S. Cavaco
– que ele tanto atacou --, quer transformar agora as derrotas em vitórias,
tornando-se primeiro-ministro. Ora, mesmo que conseguisse sê-lo, a condição de
grande derrotado em 4 de Outubro nunca o largaria.
Pior: como só pode fazer maioria com o PCP
e o BE (os dois juntos), mesmo sendo primeiro-ministro nunca poderá aplicar a
sua própria política. Até no poder, Costa estará sempre a perder, pois
comunistas e bloquistas terão ‘direito de veto’ sobre todas as leis.
António Costa foi derrotado pela direita
nas urnas -- e pretende agora continuar a ser derrotado pela esquerda no
Parlamento. Pelo meio, o PS ficará feito em cacos e o país poderá dar uns bons
passos atrás.
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