Vasco Pulido Valente - in Jornal Público
19/09/2015 - 07:56
Quando se raspa um
socialista acaba sempre por se encontrar um tiranete. No meio do espectáculo
pouco edificante das prisões de Sócrates, ninguém perdeu tempo a discutir, ou a
investigar, o papel do cavalheiro na imprensa e na televisão. Mas nem Mário Soares,
no fim, escapou à regra de interferir na política editorial do “Diário de
Notícias” de Mário Mesquita. Para gente tão penetrada da sua virtude e da sua
razão a crítica é fundamentalmente um escândalo, que em democracia se tem de
aturar - com conta peso e medida. Os processos para manter a canalha do
jornalismo na ordem, ou pelo menos, numa ordem tolerável, são vários: a compra,
a rápida promoção para a vacuidade, uma ou outra ameaça e, se nada disto der
resultado, a calúnia e o despedimento das cabecinhas que persistem em “pensar
mal”.
Esta semana tivemos dois casos que nos deviam
inquietar. Primeiro, pareceu a meia dúzia de militantes que Vítor Gonçalves
tinha entrevistado António Costa na RTP sem o cuidado e a reverência que a
circunstância exigia. No dia seguinte foi publicado na internet um recado
sibilino: “Quantos jornalistas com papel relevante em programas televisivos com
impacte eleitoral (durante a pré-campanha) são familiares de altos dirigentes
do PSD ou do actual governo?”. Este filosófico desabafo de sabor saudosamente
estalinista vinha assinado por um tal Porfírio Silva, ao que por aí corre
carregado de diplomas, que Costa recentemente chamou para o ajudar. Não sei da
vida ou do parentesco de Vítor Gonçalves, nem do pessoal da RTP. Mas fiquei a
saber que, para não me insultarem, preciso de apresentar documentos até à
terceira geração para provar que não há na minha família nenhum desgraçado ou
desgraçada do PSD.
O segundo caso foi o
debate sobre justiça, também na RTP. Isto, não percebo porquê, enfrenesiou
presentes maiorais do PS. Supunham talvez que, à sombra de discutir a justiça,
se iria discutir a interessante carreira de Sócrates. E, sem sombra de
hesitação, um jovem agitado e estridente, chamado João Galamba, reclamou a
cabeça do Director de Programas, Paulo Dentinho, de acordo com as melhores
regras democráticas. Por curiosidade, assisti ao programa em que se falou de
Sócrates durante meio minuto. Mas para futuro sossego do sr. João Galamba, do
sr. Porfírio e do PS em geral, proponho que se organize uma comissão de censura
que separe o trigo do joio e faça respeitar o dr. António Costa. Se continua ou
não depois de 4 de Outubro, logo se verá.
Raspar um socialista... - PÚBLICO
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