Por Barroso da Fonte
«No JN de 17 do corrente,
Nuno Melo, deputado Europeu dissecou o fundador do seu Partido Político, Diogo
Freitas do Amaral, em termos que mexeram com a minha indignação contra este
político de craveira nacional. Não sendo capaz de dizer tanto, nem tão
apropriado, quero declarar que
subscrevo, integralmente, essa dissecação política. Faço-o pelas seguintes
razões:
Primeira: conheci e
admirei por muitos anos seus Pais: o Engº Duarte do Amaral e sua Mãe Filomena. Fiz parte da Comissão Organizadora
do Primeiro Congresso Histórico de Guimarães, em 1979, à qual presidiu Duarte
do Amaral que me honrou com uma gratificante citação no livro das atas, durante
a sessão solene da abertura. Pode ser consultada. A Mãe sobreviveu ao Pai
vários anos. Era um exemplo de Senhora
laboriosa, de uma simpatia incomum, de um trato admirável. Embora fosse
Poveira, vivia na sua Quinta de Penselo, em Guimarães e ela própria, abastecia,
diariamente, o mercado municipal, todas as madrugadas da semana. Retenho esse
sentimento de bondade, de trabalho e de civismo que, nutri pelo respeitado casal:
ele Vimaranense e ela da Póvoa de Varzim, onde o filho nasceu, em 21 de Julho
de 1941.
Segunda: ainda antes do
25 de Abril de 1974, acompanhei o psicólogo Carlos de Sá Ramalho, ao tempo
diretor de Recursos Humanos na Coelima, a casa do já então Prof. Diogo Freitas
do Amaral, em Lisboa. Haviam-se conhecido na Universidade. E, como Carlos
Ramalho fora meu colega de Trabalho, no Centro de Emprego de Chaves,
acompanhei-o como amigo que nunca mais deixei de ser, até que a sua morte nos
separou. Foi durante esse encontro que conheci o anfitrião Freitas do Amaral.
Retive dele uma espécie de idolatria até à revolução dos cravos.
Terceira: Com o eclodir
desse golpe militar formaram-se diversos partidos políticos. Diogo Freitas do
Amaral, com Amaro da Costa, Basílio Horta e outros, fundaram o CDS que teve os
seus primeiros incidentes junto ao Teatro Jordão, na cidade de Berço, onde
houve forte tiroteio e escaramuças que ficaram na memória de quem assistiu,
envolvendo figuras ainda vivas que ascenderam a governantes e a outros cargos
de relevo. Pessoalmente não aderi a qualquer partido político até 1984. Como
jornalista procurei separar as águas e fui daqueles que na imprensa regional
mais combati, por exemplo, a Câmara de Guimarães, ao tempo da AD. Paradoxalmente,
em 1986, fui convidado a entrar nas listas do PSD à Câmara e fui eleito na
lista presidida pelo candidato que presidira, três anos antes, ao Executivo da AD que eu tanto combatera.
Quarta: Eleita a lista
que a que pertencia, fui convidado, na
qualidade de Jornalista, para liderar a comissão local de apoio à candidatura
de Freitas do Amaral. Aceitei pela boa imagem que tinha do candidato e,
empenhei-me em cumprir o meu papel. Na 1ª volta, venceu as eleições contra Mário Soares e
Salgado Zenha. À segunda volta Freitas perdeu. Hoje, penso que perdeu bem pela
sua incoerência ideológica e pela sua vã glória de dar nas vistas, não passando
de um homem comum.
Quinta: Com a minha
entrada na política ativa aquele que eu apoiara e pelo qual me batera, começou
a perseguir-me e a desgostar-me. Em 1990, quando, já retirado da vida ativa e
após ter sido nomeado Diretor do Paço dos Duques de Bragança e do Castelo da
Fundação, Freitas do Amaral, num ato público em Braga, teve o desplante de me
chamar «boy» do PSD.
Depois disso constatei
que tal político não passava de uma marioneta, mudando de ideário como quem
muda de camisa. Ora dizia mal do PSD, com o qual se aliara, ao tempo de Sá
Carneiro, ora maldizia os seus líderes que se seguiram. Tanto elogiava os
adversários, como renegava as orientações que defendera, quando criara o CDS. A
ponto de gerar conflitos com grande parte dos seus dirigentes.
De repente apeteceu-lhe
ser ministro e logo recebeu de Sócrates a pasta dos negócios estrangeiros.
Depois, por alegadas razões de saúde, demitiu-se. Acabou por enriquecer o seu
percurso político, não pela qualidade dos bens que produzia ou do progresso
económico, ou cultural que preconizava, mas pela diversidade dos cargos, de
funções e de pareceres que alardeava, frente aos ecrãs televisivos ou
radiofónicos. Sempre ambicionou mais isto e mais aquilo. Serviu com Soares, com
Sócrates e almeja, agora, fazer um brilharete com António Costa. Já veio
holofotes da fama, desejoso de recuperar o mediatismo de que sempre viveu.
Fazendo tábua rasa do seu passado político apressou-se a escrever na Visão que
«só com o PS, poderá haver justiça social em democracia e na Europa». É óbvio que só não mudam os burros. Mas tantas vezes e tão bruscamente, por parte de pessoas sobre
as quais fiz declarações publicas que hoje me enojam, é meu dever moral,
enquanto estou no verdadeiro juízo, demarcar-me para que não conste no meu
honrado trajeto existencial, tão aberrante mancha.
O Diário de Notícias de 1-5-2005 escreveu que
«Freitas do Amaral é o ministro mais rico do Governo de José Sócrates». Diz
Filipe Santos Costa autor da notícia que «de acordo com as declarações de
património apresentadas no Tribunal Constitucional que o Primeiro Ministro,
pelo contrário, foi dos ministros que entregou uma declaração de IRS mais
modesta, apesar de ser dono de um apartamento num dos edifícios mais luxuosos
de Lisboa e ter na garagem, um carro vintage – Mercedes 230 SL».
Tenho vindo a ler os livros de Freitas do
Amaral. Num deles escreve que a seguir aos ziguezagues partidários por que
passou e, sobretudo, após o endividamento que contraiu com a campanha
presidencial, viveu dificuldades financeiras graves. Se volvidos cerca de 20
anos já era o ministro mais rico, terei que consulta-lo para que me ensine a
enriquecer. É que eu nasci dois anos antes dele. Trabalhei, pelo menos, tanto
como ele e ainda trabalho noite e dia. A única viatura que uso para toda a
família, já completou 30 anos. Estudei
tantos anos como ele, no tempo em que se estudava a sério e não havia
influências estranhas, como no seu tempo. Até por isso, ele mesmo não foi à
guerra, nem à tropa, tendo muito mais físico do que eu. E anda este arrogante
político a vender justiça, competência, honestidade e democracia. Como Nuno
Melo, acaba de afirmar: Freitas do Amaral: «validou decisões de Sócrates que
redundaram na tal tempestade que o país enfrentou». »
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