sexta-feira, 3 de julho de 2015

Piteira Santos filho de barrosão e nome grande na Amador


Por Barroso da Fonte

Fernando António Piteira Santos, patrono da Biblioteca da Amadora, nasceu em 23-01-1918, na Amadora, mas era filho do barrosão Vitorino Gonçalves dos Santos, natural do concelho de Montalegre. A mãe - Leonilde Bebiana Piteira Santos - nascera em Lisboa, de família oriunda de Ançã. Esta senhora que fora católica praticante, familiarmente tratada por «Mãe-toni», faleceu em 26-02-1963, pouco tempo depois do filho ter partido para o exílio. O pai, valoroso republicano, foi promovido, por distinção, ao posto de tenente da GNR, sendo posteriormente transferido para o exército, de onde se reformou, como major. Foi agraciado com a Ordem Militar de Avis e com a Torre de Espada, falecendo em 27-02-1943.
 O seu biógrafo escreve que Vitorino Gonçalves dos Santos «herdou de seus pais traços marcantes das suas personalidades, ressaltando a inteireza de carácter e de fidelidade a princípios,
faceta que se coaduna com a atitude do filho, ao renegar o nome e a herança de seu pai, Sebastião Ataíde de Melo e Castro, por este ter abandonado sua mãe, Florinda dos Santos, de origem popular». Seu pai chegara a ser proprietário da histórica Casa do Cerrado, em Montalegre.
 Piteira Santos casou em 31-07-1940 com Cândida Ventura que foi futuro quadro militante clandestino do PCP, de quem veio a divorciar-se, em 19.07.1947. Voltou a casar em 7-02-1948 com Maria Stella Biker Correia Ribeiro.  Esta já era separada de Inácio Fiadeiro, igualmente antifascista e com dois filhos: António (afilhado de Álvaro Cunhal) e Maria Antónia, afilhada de Piteira Santos.
O novo casal deixa a Amadora, em 1952 e muda-se para Lisboa. Entre 1962 e 2-5-1974, regressa do exílio, em Argel. Piteira Santos ingressa na Faculdade de Direito, mas ao 2º trimestre transfere-se para a Faculdade de Letras e matricula-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Por causas relacionadas com a prisão política só acaba o curso superior muito depois.
  Em 21-04-1938 funda o Bloco Académico Anti-fascista MUNAF da área do PCP. Passa à clandestinidade e, em 1943, é designado para o comité Central do PCP. Volta a ser preso  no congresso seguinte. Faz-se membro do MUD e, em 1950, é afastado do PCP. Em 1956 é co-fundador  da Sociedade Portuguesa de Escritores. Em 1962 participa no Golpe de Beja e passa à clandestinidade. Mais tarde fixa residência em Argel. Aí funda, com outros, a Frente Patriótica de Libertação Nacional. Chega a encontrar-se com Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane e Samora Machel. Integra a equipa da Rádio Voz da Liberdade e dirige o jornal Liberdade, órgão central da FPLN. Regressa a Portugal, em 2 de Maio de 1974 e funda, com Manuel Alegre e outros, os centros Populares 25 de Abril. Torna-se o diretor-geral  da Cultura Popular e espetáculos e, em 1974/75, diretor de Serviços culturais da Câmara de Lisboa. Foi diretor-adjunto do Diário de Lisboa, colaborou em jornais, como: República, Diário Popular, Seara Nova, Vértice,  Vértice etc.  Depois de um período muito fértil em publicações de interesse público abrandou a atividade partidária e dedicou-se a projetos  de interesse público.
  Faleceu em Lisboa aos 76 anos. Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de documentação 25 de Abril, coordenou a «A exposição «Fernando Piteira Santos: Português Cidadão do Século XX». Joaquim Moreira Raposo, presidente da Câmara de Amadora, elogiou descomplexadamente este Barrosão e apoiou a construção da Biblioteca com o seu nome. Dela recolhemos os dados que ficam. 
Leu-se na «Exposição Fernando Piteira Santos – Português, cidadão do Século XX – uma pátria é um território cultural»: manteve sempre uma atitude crítica e atenta relativamente à sociedade em geral, e essa atitude é bem visível em tudo o que escreveu a nível político, social e cultural sobre o país.
  Há uma feliz coincidência no percurso revolucionário de Piteira Santos. Depois de passar por Marrocos, fixa-se em Argel. Aqui conhece outros cérebros decisivos para a operacionalização do processo da autodeterminação dos povos africanos, nomeadamente sob o domínio português. Se para esse processo já Bento Gonçalves, barrosão de Fiães do Rio (Montalegre) havia contribuído remotamente, outros nomes, com ligação a Barroso e a Trás-os-Montes, se ajuntaram à Frente Patriótica de Libertação Nacional: Amílcar Cabral e Agostinho Neto. Não conhecemos qualquer autor das muitas dezenas que nestes 40 anos mandaram bitaites ao gosto de cada um, se ocuparam deste fenómeno. Quatro nomes de Barrosões dos mais influentes na autodeterminação dos Povos africanos, intervieram nesse processo que originou o chamado «fim do império português». Vale a pena insistir na invocação destes quatro cidadãos e cidadãs da região do Alto Tâmega, mas com incidência no concelho de Montalegre. Por ordem de antiguidade citamos esses nomes: Bento Gonçalves, Piteira Santos, Maria Helena Ataíde Vilhena Rodrigues (mulher de Amílcar Cabral) e Maria Eugénia Neto (mulher de Agostinho Neto). Há que fixar estes nomes que vão permanecer, para sempre, como atores principais da emancipação  Luso - Africana.
                                                                                                                      Barroso da Fonte     



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