Jorge Lage jorgelage@portugalmail.com |
2- Atitudes de alguns empregados dos Municípios – Diz a
Bíblia Sagrada que «ninguém é profeta na sua terra» e eu também não o sou. Ao
ser-me endereçado um convite pelos ilustres amigos, Cónego Silvério e Prof.ª
Gentil, para me associar ao momento festivo de restauros e melhoramentos na
Igreja da minha terra, lembrei-lhes o dito milenar. Tenho sido muito bem
recebido pelo Município na apresentação de livros e por isso estou muito grato.
Com um currículo extenso a nível de segurança escolar, protecção civil,
ambiente e floresta e nunca fui chamado nestes temas por escolas, juntas ou
associações nem para «jarra de adorno». Só a Escola de Hotelaria de Mirandela
se lembrou de me envolver num momento interessante na promoção gastronómica de um
produto regional «a castanha». Mas, eu queria falar-vos do caminho árido e
árduo da investigação da memória imaterial rural que se apaga, principalmente
nos campos etnográfico e etnolinguístico. Dizia-me um «compagnon de route» da
obra «Mirandelês» e de muitas ajudas, que havia académicos que deviam fazer uma
análise crítica desta obra de grupo, nem que fosse para dizer mal, e apenas se
ouviu o silêncio. Do grupo alguém terá dito que o trabalho sério incomoda
alguns académicos trasmontanos. Se o mal é a «ronha do convento», até me anima
a continuar. Nesta embelga de escrita eu queria-vos dar a conhecer quanto me
dói, se ao contactar uma ou outra técnica do município e quando estou a começar
explicar o que quero, para facilitar a vida a ambos, sou interrompido com
enfado, porque não se está para ouvir e dar uma resposta específica. Felizmente
a maioria é solícita. Se peço um ou dois contactos, por exemplo, não preciso
nem quero todos os contactos possíveis do concelho. Noutros concelhos estão
sempre em reunião ou serviço externo. Há outros que estão em reunião ao mais
alto nível e vêm-me atender. Há pouco fiz pesquisa no Município de Castanheira
de Pêra e no final fui agradecer à assessora da vereação e passa por mim a
vereadora da cultura e diz que está reunida com o Presidente mas que me vinha
já atender. E veio simpática e atenciosa. No final disse-me para voltar a
visitar o concelho. Hei-de voltar. Também, ao ir a Vila Verde (do Minho), entro
no Posto Municipal de Turismo e a jovem que está lá não me larga um momento
sempre a dar explicações, como um livro aberto de simpatia e informação.
Voltando a Castanheira de Pêra , sempre que ligo para a Técnica que está na
«Casa do Tempo» (leia-se Museu Etnográfico) e nunca vi quem tanto soubesse e o
explicasse com um sentimento de felicidade por estar a passar cultura e
informação da sua terra. Sabe toda a «História do Concelho», até os episódios
mais específicos. Fiquei a saber qual o fim último dos neveiros da serra ou
porque «Castanheira», em gíria empresarial da primeira metade do séc. XX, se
diz «Casconha». Mal começamos a abordar qualquer dúvida ou tema a lição
salta-lhe dos lábios e da alma: obrigado Sónia Tomás!
3- Alguns ciganos (?) vindos de Leste não se contentam com
pouco como os nossos – A informação chegou-me por quem anda «com a mão na
massa», que é como quem diz, quem atende os carenciados. Somos um país pobre e
a tendência vai ser para vivermos pior se não arregaçarmos as mangas. A
conversa barata da maioria dos políticos e de quase todos os sindicatos, está
esgotada, porque agora quem controla o nosso orçamento é Bruxelas. Não há
Costas, nem Antónios, ou Coelhos que façam milagres. O milagre tem de ser do
trabalho e da produção. Não faz sentido importarmos mão-de-obra sazonal e nós
com uma orda de gente na flor da vida a receber sem trabalhar. Mas, neste Natal
vai haver muita pobreza na nossa envergonhada gente, outra assumida e outra
forjada pertencente a redes organizadas de pedintes que vieram de Leste e já
auferem por cá o rendimento mínimo. Por exemplo, na Roménia o rendimento mínimo
é de 190 €. O que aqui ganham e o que tiram na pedinchice dá para as
«organizações» engrossarem contas nos países deles. Neste Natal, ao contrário
do que eu pensava, os nossos ciganos, em geral, são compreensíveis quando não
recebem os cabazes cheios. Alguns, felizmente, não estão muito necessitados.
Mas, os «insuportáveis» vindos de Leste são de uma exigência e grosseria
impressionantes, como se estivessem a comprar os artigos que lhes dão. Se são
roupas, miram-nas e remiram-nas antes de as aceitarem. Não se lhe aplica o
ditado «cavalo dado não se olha o dente». E nos géneros alimentares aceitam-nos
com a mesma exigência, o que leva a supor os mais atentos, que alguns dos
artigos que lhe são dados, podem ter como destino a venda noutros locais. Era
preciso fazer-se alguma coisa, porque alguém poderá andar a brincar com a
pobreza lusa e a privar de ajuda quem muito precisa.
4- Votos de um Santo e Feliz Natal – Vivemos e vamos
continuar a ter um tempo de míngua, em que muitos são triturados pela
indiferença social e pelos desmandos dos políticos de todos os quadrantes.
Neste Natal sei que em Mirandela alguns dos que viviam bem estão a passar
dificuldades e têm vergonha em se mostrar, por isso, a maior atenção deve ser dada
à pobreza escondida e envergonhada. Queria recordar, com alguma tristeza,
aqueles que os filhos empurram para os asilos, quando podiam ser apoiados por
uma funcionária na sua própria casinha. Apetece-me perguntar: Oh! Senhora
doutora! Se empurra os seus pais para o depósito de velhos, o que espera que os
seus filhos lhe façam daqui a 20 ou 30 anos? Oh! Senhor padre! Se proíbe os
idosos de terem uma pequena imagem da sua devoção na mesinha de cabeceira do
quartinho do lar, em que deus e santos acredita? Um Natal com amor e carinho
para cada dia, amigo leitor!
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