sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Almoços e fundos comunitários - Jorge Lage



Jorge Lage
5- Campanha calma da castanha em 2014 – À medida que vamos avançando na idade e ganhamos novas competências estratégicas, a pesquisa vai sendo mais calma, concelho a concelho, sem pressa, descobrindo novos saberes, novas paisagens, novo património e nova gente. Em Maio fui convidado, pela referência cultural e cívica de Chaves, Isabel Viçoso, para a 29OUT2014 ir ao Município de Boticas apresentar o livro «Memórias da Maria Castanha», o que foi muito agradável pela forma franca como fui bem recebido. Seguiu-se, dia 08NOV2014, uma palestra sobre o castanheiro na Festa da Castanha de Prados – Celorico da Beira, onde me apercebi que andam por ali alguns finórios muito instruídos a enganar os agricultores. Aproveitei, ainda, para conhecer algum património edificado e a paisagem natural e soberba da Serra da Estrela. Em Linhares da Beira, uma pérola da Estrela, almocei no gourmet «Cova da Loba», com uma decoração e construção excelentes. Na comida prefiro a tradicional porque alguma gourmet parece afastada das delícias da mesa e da qualidade intrínseca. Mais a sul, estive, como convidado, na Feira do Mel e da Castanha da Lousã, com um mar de feirantes, onde o livro foi apresentado pelo ilustre Professor da Universidade de Coimbra, Luciano Lourenço. Muito bem alojado, bem recebido pelo Director da Cultura lousanense e pelo elenco municipal. A campanha terminou na Galiza, perto de Ourense, em Alhariz, uma vila cheia de história e de cultura edificada e preservada. Os galegos ao fim de semana não se metem na «toca» como nós, juntam-se nos bares, conversam, convivem e dão vida ao casco velho edificado. Os Magustos galegos estão mais próximos dos que faziam os nossos antepassados celtas no bosque sagrado. Mesmo com chuva, o evento foi promovido pela «Fundación Vicente Risco», no eco-parque Rexo, com uma tenda a proteger-nos da chuva fria outonal. Apesar de os galegos estarem mais informados sobre a castanhicultura ainda têm muitas interrogações que foram sendo tiradas pela exposição e diálogo.

6- Queijaria Vaz, do Navalho – Mirandela, volta a ser premiada – Diz o povo que custa menos fazer bem do que fazer mal. Essa para ser a divisa da Queijaria Vaz, do Navalho, ao voltar a ser premiada. Este ano, conseguiu o 1.º prémio no concurso «Queijos de Portugal», na categoria de «Cura-Prolongada» ou queijos curados de ovelha, organizado pela Associação Nacional de Industriais de Lacticínios, que se realizou a 23 e 24 de Outubro em Tondela. Mais uma vez, damos os parabéns aos proprietários (Arménio Vaz) pela afirmação de qualidade que imprimem aos queijos da região, que os considero dos melhores do país. Para além das leis que tentam asfixiar a pequena e média produção, em detrimento dos grandes grupos, fazer queijo é uma arte, que começa no pastoreio e termina na secagem do nosso bom queijo de ovelha e cabra. Os fiscalizadores e a obediência dos governantes ao que ditam os grandes grupos acoitados em Bruxelas deviam ter vergonha e coragem para defender melhor o que nos distingue, pela qualidade e tradição. As encomendas da Queijaria Vaz vão surgir, mas que a qualidade não seja descurada, beneficiando outros pequenos produtores do concelho.

7- Para quem vão os fundos comunitários gastos no plantio de novos soutos? – Há anos, com a vulgarização dos Projectos dos fundos comunitários, alguns engenheiros ou regentes agrícolas batiam as aldeias do interior e subiam as escadas dos agricultores para lhes propor a florestação de terras por aluguer e outros para elaboração de Projectos. Foi um facturar com ganância pelos mais expeditos. Tudo o mais foram quase só cinzas e plantações ao abandono. Na Ilha da Madeira falaram-me em alguns casos de vigarice. Isto é, sem os Projectos aprovados cobravam a fatia pelo trabalho técnico e nunca havia aprovação. Em Portugal, dizem que uma associação de «castanheiros» criada à sombra da UTAD, mas distinta desta, pelo menos, na facturação. E o abocanhar de verbas do quadro comunitário é tal que se bate grande parte do país, apresentando os projectos como lhes interessa, assim se fala. Dizem que alguns senhores ligados à UTAD e os «compadres» e outros, farão um trabalho apresentado na sua essência envolvente como louvável, só que parece não o ser de todo. Alguns do meio mais atentos, acham estranho esta vocação principal de quem se arroga de servir universidade em investigar e inovar. Dizem que a associação quer monopolizar a fileira do castanheiro. Já terá havido em tempos idos (não pude confirmar) professores credenciados ameaçados por, também, fazerem estudos oportunos, sérios e abrangentes sobre a castanha, em parceria com outros organismos insuspeitos e prestigiados, como o Instituto Ricardo Jorge. O que me parece, porque sirvo, como voluntário, há mais de 20 anos, um Projecto educativo, em que toda a verba entra na contabilidade da Universidade de Coimbra e por norma esta cobra à cabeça uns 25% a 30%. Se nos Projectos que a associação da fileira da castanha planifica, todas as verbas entram na UTAD, toda a Universidade beneficia. Mas, se passarem ao lado, alguém poderá andar a viver bem com a capa de benemérito. Há municípios que se rendem a alguns «magos» universitários do tema. Para alguns agentes do desenvolvimento rural e local, os Projectos de plantação de souto e pomar deviam ser feitos em conjunto com os Municípios, associações florestais e proprietários para grande parte das verbas ficarem onde se plantam os castanheiros e motivam as plantações, gerando desenvolvimento local. Caso contrário poderá acontecer uns levarem mais os muitos milhares de euros e os outros ficarem com os problemas. Curioso é dizerem-me que o projecto mais avançado no tratamento da doença do cancro do castanheiro ser do IPB. Mesmo este tratamento já se comercializa e aplica noutros países há algum tempo. Intrigante é quando uns pretendem um pequeno apoio dos Serviços Florestais tudo são dificuldades e para as grandes verbas passarem para alguns «lobbies» parece que há condutas ou auto-estradas abertas.

Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com – 19NOV2014
Provérbios ou ditos:

         O pobre não tem, os ricos não dão, lá virá o mês das castanhas que eles pagarão.
         Toca la rana! O que mais unhas tem, mais (castanhas) apanha!

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