João Miranda
Impunha-se inscrever na História de
Portugal, e para memória futura, o simbolismo desse Monumento, cuja ideia
germinou em Guimarães, em 1984, no seio da Associação Nacional dos
ex-Combatentes do Ultramar (ANCU).
Posteriormente, para tornar
realidade a ideia da construção de um Monumento de homenagem aos heróis anónimos
que tombaram no cumprimentos do dever, em 29 de Janeiro de 1987, na sede
da Liga dos Combatentes, em Lisboa, foi constituída uma Comissão Executiva,
formada por representantes de oito instituições, alinhadas por ordem
cronológica da sua fundação, a saber: Sociedade Histórica da Independência de
Portugal (1861); Sociedade de Geografia de Lisboa (1875); Liga dos Combatentes
(1924); Associação dos Deficientes das Forças Armadas (1974); Associação de
Comandos (1975); Associação dos Especialistas da Força Aérea Portuguesa (1977);
Associação dos Ex-Combatentes do Ultramar (1982); e Associação da Força Aérea
Portuguesa (1983). Nessa data foi deliberado, por unanimidade, confiar a
presidência dessa Comissão ao General Altino de Magalhães, na sua qualidade de
Presidente da Liga dos Combatentes. Para além da Comissão Executiva foram também instituídas: a Comissão Técnica, para elaboração do
projeto do Monumento e a abertura de concurso público aberto a todas as equipas
de reconhecido mérito em arquitetura e a Comissão de Honra para que a construção do Monumento
envolvesse toda a sociedade civil, desde o Presidente da República, a todos os
órgãos de soberania. O então Presidente da República recusou o convite,
alegando que essa intenção implicava uma imagem pública de concordância com a
Guerra do Ultramar que ele (Mário Soares) não partilhava. Tal recusa fez com
que a Comissão de Honra não fosse por diante. Apesar dessa resistência, a
Comissão Executiva não desanimou, antes entendeu que deveria «ter o
vulto de um Monumento Nacional e era urgente a sua construção». E para ter
a maior dignidade e transmitir força, serenidade e respeito, deveria convidar à
meditação profunda do amor à Pátria e à exaltação do cumprimento do dever
cívico. Mais: deveria prever-se a organização adicional de um Museu do
Combatente. O então Ministro da Presidência e da Defesa Nacional (Eurico de
Melo) concordou com o caderno proposto pela Comissão Executiva e aprovou o
espaço sugerido para a construção do Monumento, processo moroso que apenas foi
concluído em 21/09/1990, já sob a tutela do Ministro Fernando Nogueira.
A abertura do concurso para o
projeto foi publicada no Diário da República de 5 de Maio de 1991, 3ª série, e
ganhou-o a proposta do Arqtº Francisco Guedes de Carvalho. A execução desse
projeto foi entregue, por unanimidade e sem reclamações dos restantes quatro
concorrentes, à Firma Amadeu Gaudêncio que apresentou a proposta mais
baixa: 95.598.967$00.
A obra seria inaugurada,
solenemente, em 15/01/1994, com a presença do Presidente da República, debaixo
de muitos apupos e grande contestação. O orador oficial convidado foi o Prof.
Doutor Adriano Moreira. Do Ministério da Defesa, de algumas Câmaras
Municipais, Juntas de Freguesia, empresas e cidadãos individuais, foram
reunidos 8.839.540$00. Com algumas verbas que sobraram foi deliberado colocar
nas Muralhas do Forte do Bom Sucesso os nomes de todos aqueles que perderam a
vida em combate. E foram cerca de 9 mil. Essa segunda inauguração ocorreu em
5/2/2000. Por despacho de 16/10/1998 a Comissão Executiva foi dissolvida, por
já não se justificar e foi atribuída à Liga dos Combatentes a gestão daquele
Monumento e também do espaço envolvente.
Tudo isto e algo mais pode ler-se
no livro Monumento aos Combatentes
do Ultramar (1961-1974), da autoria do General Altino de Magalhães que, ao
tempo, era Presidente da Liga. Um valioso testemunho porque ninguém melhor do
que ele conheceu os passos deste monumento nacional. Em 9/4/1989, durante
as cerimónias evocativas da Batalha de La Lys, perante o vice-primeiro Ministro
e o Ministro da Defesa, Altino de Magalhães anunciou a abertura do concurso
para a sua construção e afirmou: «Como é do conhecimento público a
Associação dos Combatentes do Ultramar, com sede em Guimarães, lançou há cerca
de 4 anos a ideia da construção desse Monumento». Na página 19 do memorial
editado em 2008 pela EUROpress, confirma:
«A Associação dos Combatentes do Ultramar (sediada em Guimarães), no seu
jornal/boletim Sentinela, em Março de 1985, referindo-se à
construção desse Monumento, exprimiu que teriam o maior mérito todos os apoios
para essa realização».
Embora fique claro que a
paternidade deste Monumento nos pertence (à ANCU), alude a uma referência em 1
de Fevereiro de 1985 à Associação de Comandos. Este equívoco pode
gerar alguma confusão histórica pelo facto de, na mesma página, citar o
Boletim Sentinela, nº 7,
referente a Março de 1985. É que na edição nº 5 do mesmo Boletim,
mas de Agosto de 1984, na página 3, já podia ler-se no Plano de Actividades: «designação
de um grupo de associados que tenham como tarefa essencial a angariação de
meios e apresentação de estudos tendentes à construção de um Monumento nacional
em homenagem aos Combatentes». Barroso da Fonte criou, em 1982, aquela
Associação que, em 1996, mudou o nome para Associação Nacional dos Combatentes
do Ultramar. Até 2002 foi Presidente da Direcção e diretor do Boletim Sentinela, com o pseudónimo de
Fernando Paixão. Por sua proposta, em 2002 transferiu-se a sede da
Associação para Tondela, onde está de pedra e cal.
Quem tiver dúvidas consulte o Boletim Sentinela, onde está contada, número a número, essa cronologia que permite identificar a paternidade e a responsabilidade da criação desse Monumento.
Um obreiro esquecido
Aproveito esta oportunidade para
corrigir uma injustiça: reconhecer publicamente o papel fundamental que Duval
de Oliveira Bettencourt, oficial miliciano associado da ANCU, teve no processo
de construção do Monumento.
Açoriano de nascimento, radicou-se em Lisboa e foi um obreiro incansável desde a primeira hora. Mas embora tenha tido um papel importantíssimo neste processo, tendo inclusive presidido à Comissão Nacional de angariação de fundos, o seu nome e o seu esforço foram omitidos da história do Monumento e nem sequer é citado no livro do General Altino de Magalhães. Duval de Oliveira Bettencourt faleceu em 11 de Março de 1998.
João Pedro Miranda
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