quarta-feira, 12 de junho de 2024

Artistas e Artífices do Século XVIII nas Periferias Transmontana, Beirã e Duriense.

 Júlia Serra

Armando Palavras, licenciado em Belas Artes (Pintura) e doutorado em História de Arte, é um autor com um vastíssimo currículo e obra publicada – livros, documentos dispersos, resultado de investigações, ensaios e demais literatura. Dotado de um espírito analítico perspicaz e de uma amorável tendência para projetar os artistas e artífices do séc. XVIII, em torno da região transmontana, dedicou-se a uma faina estrénue do estudo das igrejas e monumentos afins da arte religiosa, como comprova a sua obra Artistas e Artífices do Século XVIII nas Periferias Transmontana, Beirã e Duriense. 

Salienta-se, no livro citado, o nome de muitos obreiros contratados para a construção, conservação e reparação do riquíssimo acervo religioso da já referida região. Na Introdução, o autor Armando Palavras escreveu: “

 

          Neste caso concreto, a geografia a destacar, inclui as duas margens do Rio Douro –   a direita e a esquerda – dentro dos limites da Região Demarcada.

As Igrejas da margem direita pertencem à região de Trás-os-Montes e alto Douro (assinalada a laranja); as da margem esquerda (deste estudo), compõem um conjunto da denominada Beira Transmontana, incrustadas no Bispado de Lamego (assinalada a lilás), cujo padroado era pertença da Universidade de Coimbra. (p.5)

 

WOOK https://www.wook.pt/livro/artistas-e-artifices-

do-seculo-xviii-armando-palavras/30078768 

BERTRAND https://www.bertrand.pt/autor/armando-palavras/5090070

Uma outra nota relevante prende-se com o facto de “estas igrejas serem executadas por mestres, com exceção da igreja de Mós (Vila Nova de Foz Coa), cujo risco foi executado por Manuel Alves Macamboa.”(p.7) A análise percuciente dos arquivos consultados forneceu ao autor um rol de artífices e de artistas, deste alfobre notório, onde constam as escrituras do contrato de cada empreitada, do orçamento e da especificação dos trabalhos a executar nas diferentes áreas e ofícios: pedreiro, ensamblador, ferreiro, relojoeiro, carpinteiro, pintor, imaginário, canteiro, entalhador, debuxador, estatuário –  uma sementeira lexical condizente com a formação académica do Autor.


São inúmeras as igrejas aqui citadas, bem como a lista de artistas contratados para a execução das obras devidamente especificadas, como testemunha o exemplo apresentado na p. 73 deste livro:

“FRANCISCO, Domingos, Canteiro,

 Origem: Fontes

1745, 16 de Maio – obra da igreja de Fontes, arrematada a cantaria por 212 mil reis, pagos em quatro prestações, e a alvenaria por 200 mil reis. Esta obra foi executada juntamente com outros mestres (BARBOSA, Damião, p.26-28)”


O que surpreende mais o leitor é o rigor dos contratos e das escrituras a que o estudioso teve acesso para elaboração das suas obras – Tese de Mestrado e Tese de Doutoramento – através da consulta dos Arquivos: Distrital de Vila Real, Notariais de Santa Marta de Penaguião, da Universidade de Coimbra – Bispado de Lamego, Revistas de Câmaras Municipais e muitos outros documentos. A investigação de Armando Palavras incluiu sempre a arte sacra: a Tese de Mestrado intitulava-se: Os Anjos de Penaguião, 2001, Lisboa e, mais recentemente, em 2011, Lisboa, a Tese de Doutoramento, com o título: Os tectos durienses: A iconografia religiosa setecentista nas pinturas dos templos da região demarcada. 



Pena é que que, hoje, estes estudos não sirvam de exemplo para os obreiros de grandes projetos, quer a nível de perfeição artística, quer de orçamento e segurança!

Um livro que, versando sobre aspetos do século XVIII, é um bom guia para todos os artistas, especialmente para aqueles que se dedicam à arte sacra, e também um ótimo manual de restabelecimento de confiança/segurança para as partes intervenientes em contratos. Propender para uma fachada vistosa não equivale a uma obra artisticamente seminal, pode ser apenas uma habilidade atrativa.

 Ao ler e refletir sobre este livro, o leitor não fica indiferente perante a tematização e o rigor do carácter científico, hoje, tão olvidado.

Este cadinho de Portugal aqui retratado deve sentir-se orgulhoso do seu Filho! 

Júlia Serra

1 comentário:

  1. O Dr.Armando Palavras é o orgulho de qualquer transmontano que o conheça...! Olhamo-lo e nem imaginamos do que ele é capaz de "reparar"... - a simplicidade com que nos fala, a sensibilidade e meticulosidade com que escreve, deixa-nos pasmados de espanto e admiração !

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