Como é que conseguem
viver com o olhar dela, três vezes traído?
Sharbat Gula foi
deportada depois de 11 dias de prisão.
Os paquistaneses tiveram pena dela e, depois do consulado afegão ter pago a
multa de 1500 euros, libertaram-na. Voltará para o Afeganistão de onde fugiu
com os quatro filhos.
Em 1984, tinha ela 11 ou
12 anos, Steve McCurry fotografou-a para a National Geographic. A
fotografia, Afghan girl, tornou-se a mais famosa de toda a história da
revista. Toda a gente viu a fotografia – excepto ela.
McCurry, que ficou famoso
e rico à custa daquela fotografia, fez várias tentativas para reencontrá-la. Só conseguiu em 2002, quando ela tinha 30
anos. Foi a primeira vez que ela viu a fotografia dela quando era criança.
A nova fotografia de
Sharbat Gula – só com 30 anos mas envelhecida por uma vida duríssima – voltou a
correr o mundo, para toda a gente ter o prazer de ver como a menina bonita dos
olhos verdes tinha desaparecido para o rosto de uma mulher banal.
A National
Geographic ainda retribuiu parte do lucro pagando-lhe uma peregrinação a
Meca e algumas despesas médicas. Fez também um fundo para educar crianças
afegãs. Mas a sádica exploração de Sharbat Gula – indesculpável e abusiva desde
o início – continua.
Então e agora? Como é que
é, ó abutre McCurry? Como é que ninguém, à excepção de afegãos e paquistaneses,
mexeu uma palha para ajudá-la? Ela é viúva e está doente. Porque não lhe
compram uma casa e lhe dão dinheiro para viver bem durante o resto da vida?
Como é que conseguem viver com o olhar dela, três vezes traído?
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