BARROSO da FONTE |
No penúltimo dia de Setembro, tórrido, mas
propício ao vislumbre paradisíaco duriense, revisitei com António Xavier e
Vitorino Costa um roteiro geográfico de soberba grandeza: Guimarães, Régia,
Trevões, Anta, Penedono e Prova. O dia foi pequeno para alongar a visita a Vila
Nova de Paiva, Moimenta da Beira, Sernancelhe e Aguiar da Beira. Havia lido uma
expressão feliz: «Terras do Demo, esquecidas por Deus, eternizadas por
Aquilino». Mas li nessa mesma fonte, online, que «chegar às Terras do Demo já
não é tão difícil como nos tempos de Aquilino Ribeiro», quando se fazia essa
viagem por «lanços perigosos e ziguezagues mortais»
Quando li o roteiro das Terras do Demo localizado no Lifecoolor,
«largava-se de Viseu pela tardinha e ia-se para o cabo do mundo. Mas agora
basta meia hora para chegar da capital a Vila Nova de Paiva, uma das portas
deste território, por onde nem Cristo, nem el-rei, passaram».
O
trio que partiu com «vontade de ir à «Prova», fazer a prova da vinha e dos
vinhos, do «companheiro de luta», Prof. José Mário Lemos Damião, adiou o
programa para um novo dia.
Em Trevões visitámos o Museu de Arte Sacra, que nos comoveu pela
eficiente disposição e pelo empenho com que se fez dessa vila um centro de
cultura e de atração turística. Também a lindíssima e histórica igreja de Santa
Marinha, com o túmulo do vice-Rei da Índia Francisco de Almeida, em 1625. E
toda a zona envolvente ao centro histórico. Uma lição de civismo, de bom gosto
e de respeito pelos visitantes que não podem deixar de render-se a esse museu
que é todo esse agregado populacional. Esta freguesia pertence a uma zona de
Planalto. Faz parte do concelho de S. João da Pesqueira e da zona demarcada do
Douro. Nesse limpíssimo centro histórico existe uma tradicional habitação
adquirida pelo conhecido político Eurico de Figueiredo. Bons gostos. É um
primeiro espaço do feio-belo que essa encosta sul do Douro proporciona ao
viandante.
António Xavier que foi em dois mandatos Presidente da Câmara de
Guimarães,e que fez sua zona histórica,
o primeiro Centro Histórico do país, repetiu aos dois vereadores e deputados
que compunham o grupo, esse pioneirismo da Cidade Berço. Recorde-se que esse
estatuto de pioneiro dos Centros Históricos (1975-1012), viria a transformar
Guimarães em Património Cultural da Humanidade e em capital Europeia da Cultura
(2012). Em Trevões não deixámos de anotar o centro de interpretação
histórico-religioso, a que estiveram ligados vários sacerdotes, de entre os
quais o Padre Amadeu da Costa e Castro. São figuras como estas e obras como
aquela que ali se pode ver que tornam grandes as pequenas vilas ou cidades.
Aí nos esperava o Dr. Lemos Damião que nasceu na freguesia de Prova
(Mêda) e, foi mestre de milhares de outros professores, do Ensino Primário e
Secundário, na qualidade de fundador e de Presidente da Associação Nacional de
Professores (ANPEB). Terá sido o cidadão mais mediático da sua geração. O seu
espírito revolucionário, no sentido positivo do termo, fez com que colocasse a
sua irreverência, o seu estro criativo, a sua
ânsia de mais e de melhor, para bem-estar da sociedade. Nasceu
na Prova e fez o Magistério Primário,em Vila Real, deslocando-se, como
docente para Guimarães, onde gerou trabalho, dando largas à aventura de criar
sete novas empresas e de chamar amigos e profissionais sérios para celebrar
parcerias. Com sucesso numas e desaires noutras, criou postos de trabalho,
gerou riqueza e, sem esquecer as origens, formou família, nunca virando a cara
à luta. A freguesia de Prova (nome da freguesia) tem hoje estruturas suas e
comunitárias que bastam para o proclamar cidadão do mundo.
Conheci, pessoalmente, este grande Senhor, quando, em 1967 casei em
Guimarães. Tornámo-nos amigos e párias da mesma causa ideológica. Ele mais
político do que eu. E eu mais fadado para dar testemunho, como jornalista, das
causas alheias. Lemos Damião chegou a ser nos seus 19 anos de Deputado da AR, a
terceira figura do Estado, como Secretário da Assembleia da República. Fez
parte de muitas e nobres causas nacionais, sobretudo na área da Educação,
criando a ANPEB. Foi uma espécie de anjo protetor dos docentes do ensino básico
e Educadoras de Infância. E foi meu colega no executivo da Câmara de Guimarães,
(1986-1990), feudo socialista, onde António Xavier foi Presidente, em 2 mandatos.
Lemos Damião, Fernando Roriz e o signatário, pela primeira e única vez
ganhámos, por 118 votos a Câmara da então autarquia mais populosa a norte do
Rio Douro
A convite desse pedagogo, viajámos, pelas
terras do Demo, em busca da vinha e dos vinhos, deste político de raiz,
conduzidos por outro deputado do ex-PRD,
doutorado pela Universidade de Santiago de Compostela: Vitorino Costa.
Ambos foram coautores da ANPEB, coetâneos no Parlamento e na Assembleia Municipal
de Guimarães. Estes e outros amigos, vivemos o nosso entardecer social,
visitando terras, sítios de cultura e espaços de liberdade que reforçámos na
freguesia da Prova, numa espécie de ante-câmara do paraíso.
Barroso da Fonte
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