João Miguel Tavares - Jornal Público
Paulo Baldaia escreveu há dois dias um
artigo onde perguntava pelo abduzido Mário Nogueira, que mais parece ter tirado
sabática neste início de ano lectivo, deixando-nos órfãos do seu bigode e da
sua ira. Cito o director do Diário de Notícias: “O ano escolar começou na
perfeição? Não. Ainda assim, os problemas foram em número reduzido e
rapidamente resolvidos? Não. Então o que se passa para os sindicatos estarem
tão caladinhos?” Esta só não é a pergunta do milhão de dólares porque a
resposta está escarrapachada à frente do nosso nariz. Os sindicatos estão
caladinhos porque a sua primeira fidelidade não é para com os seus
sindicalizados, nem para com as escolas onde os seus professores trabalham. A
sua primeira fidelidade é para com o PCP. Se o dono os manda fechar a boca,
eles fecham. Donde, fechada está e caladinhos estão.
Outros são obrigados a falar por eles.
Aconteceu no Liceu Pedro Nunes, que encerrou portas na terça-feira, em protesto
contra a falta de funcionários. Há duas pessoas a servir 350 almoços diários,
dizem. A Escola de Canelas, Vila Nova de Gaia, está, segundo o Expresso, a
funcionar “a meio gás” pelas mesmas razões. Idem para o agrupamento Gil
Vicente, em Lisboa. O curioso é que quem visitar o site da Fenprof
encontra vários textos a denunciar “insuficiências” e “pré-rupturas”. O tom
do site e dos artigos não mudou muito. O que mudou radicalmente foi o
número de intervenções do mediático Mário Nogueira – e, por consequência, o
peso dos protestos do sector da Educação no alinhamento dos telejornais.
Esta situação oferece-nos duas lições
preciosas, tenhamos nós olhos para as ver e boca para as comentar – a primeira
sobre os sindicatos, a segunda sobre a comunicação social. Comecemos pelos
sindicatos e pelo grande mérito da solução de governo inventada por António
Costa: trazer para o arco da governação o Bloco de Esquerda e, sobretudo, o
PCP. É certo que eles insistem em manter um pé dentro e outro fora, mas aí o
abraço de Costa tem-se revelado eficaz – ninguém se pôs ao fresco. Qualquer
português reconhece na actual solução de governo o envolvimento do PCP e
respectivas consequências a nível sindical, com uma diminuição acentuadíssima
da conflitualidade social, que antes era intensamente produzida por sindicatos
da CGTP, sobretudo na educação e nos transportes. Veja-se o Metro de Lisboa:
nunca havíamos assistido a uma queda tão acentuada na qualidade do serviço e
não há uma greve para amostra.
Isto demonstra que o sindicalismo
português é pura encenação. Já toda a gente sabia que a CGTP era menos uma
agremiação de sindicatos do que um braço político do PCP, mas agora está
demonstrado para além de qualquer dúvida razoável. Quando o governo voltar a
ser de direita e os sindicatos voltarem a sair à rua, iremos todos lembrar-nos
da sabática do senhor Mário Nogueira, o homem que no seu monopólio sindical
nunca vai à 5 de Outubro sem passar primeiro pela Soeiro Pereira Gomes.
A segunda lição a tirar daqui é para a
comunicação social portuguesa e para o seu estado de dependência das fontes
institucionais, sejam elas gabinetes ministeriais, agências de comunicação ou
sindicatos. O alinhamento do Telejornal não pode estar dependente das
iniciativas da Fenprof: se Mário Nogueira fala as escolas estão mal, se ele
está calado as escolas estão bem. É mais do que tempo de os media começarem a
sair para a rua e definir a sua própria agenda, deixando para
o Avante! a agenda do PCP.
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