sábado, 17 de setembro de 2016

Um país de corruptos (de esquemas)

A polémica que a entrevista do Juiz Carlos Alexandre gerou, depois de José Sócrates ter escrito um artigo no Diário de Noticias sobre o assunto, e ter dado ordens aos seus advogados para apresentarem queixa do Juiz, para que este seja afastado da “Operação Marquês”, apenas é justificável porque Portugal é um dos cinco países mais corruptos (de esquemas) da Europa! Em todas as instituições do Estado (e muitas do privado). São dados que se não divulgam, nem levantam polémica. Mas um homem que se limitou a dizer que vive do fruto do seu trabalho honrado, que não tem amigos generosos que lhe aumentem substancialmente os rendimentos para viver com luxo, é incomodado pelo principal interessado, pelos amigos comentadores e escrevinhadores do interessado. “Luvas”, são “luvas”.
Qual foi a pena que Sócrates levou por ter chamado de malandros aos juízes na praça pública? Que processo foi levantado aos advogados de defesa de Sócrates por, na praça pública, fazerem criticas escabrosas aos juízes que investigam a “Operação Marquês”?
As palavras do Dr. Carlos Alexandre foram estas: “Como eu não tenho amigos, amigos no sentido de pródigos, não tenho fortuna herdada de meus pais ou de meus sogros, eu preciso de dinheiro para pagar os meus encargos. E não tenho forma de o alcançar que não seja através do trabalho honrado e sério.”. Ou estas: “Sou o ‘saloio de Mação’ com créditos hipotecários, que tem de trabalhar para os pagar, que não tem dinheiros em nome de amigos, não tem contas bancárias em nome de amigos”.
Onde é que estas palavras, como afirma Sócrates no seu artigo, são “uma cobarde e injusta insinuação baseada na imputação que o Ministério Público” lhe fizera no processo em que é arguido? E onde é que as mesmas representam uma “tão grave e falsa insinuação”? E em que parte dos parágrafos o juiz Carlos Alexandre faltou “aos seus deveres de magistrado emitindo em público, embora com recurso à insinuação, um evidente juízo de culpabilidade”?
Não existe insinuação alguma, na medida em que, em vários processos conhecidos, não foram poucos os arguidos que referiram os amigos e as contas dos amigos. E se existe magistrado que cumpre com os seus deveres, chama-se Carlos Alexandre.
Num país decente a queixa de Sócrates seria avaliada e logo de seguida, ao juiz de instrução seria dado mais poder para cumprir com a investigação, porque, como dizia Eduardo Dâmaso, o que interessa é averiguar se Sócrates é corrupto. Tudo o resto é conversa fiada.
O que nos dizia Alexandre Herculano (1810-1877)? Uma coisa simples: “ Há épocas de tal corrupção, que, durante elas, talvez só o excesso do fanatismo possa, no meio da imoralidade triunfante, servir de escudo à nobreza e à dignidade das almas rijamente temperadas”.
Estamos numa época dessas. Que iniciou em 2005.

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