quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Um final infeliz

                                                              Maquiavel

Alberto Gonçalves, Sábado

Terminadas as ilusões do Verão, recapitulemos, agora sem alegorias ou digressões. O Governo está ocupado por um bando unicamente empenhado em sobreviver, leia-se manter um simulacro de poder, satisfazer clientelas e comprar votos. É novidade? Não: é praticamente a essência da coisa. A novidade está na dependência directa do Governo face a dois partidos comunistas, que além de deterem o poder de facto, satisfazerem as clientelas e comprarem votos, possuem objectivos mais elevados, como o de arrasar o sofrível regime que conhecemos e transformá -lo numa réplica das alucinações que reverenciam.
A novidade é que, desta vez, Portugal não está apenas à mercê do PS, apesar de tudo uma agremiação com fins "utilitários" que apenas se distingue pela receptividade à incompetência e à corrupção. Desta vez, Portugal está nas mãos de puros fanáticos, que os socialistas toleram em nome de interesses particulares ou apreciam em nome da nostalgia ideológica.
De que é que os fanáticos são capazes? De quase tudo, e basta recordar os percursos dos seus modelos inspiradores, rápida e invariavelmente consagrados pela abjecta miséria. Ou, se preferirmos a facilidade, podemos notar os sinais que já há meses pairam no ar: o investimento que desaparece, a classe média que murcha, a dívida que aumenta desaustinada, os grandes e pequenos pontos sem retorno que se ultrapassam todos os dias. E o cinismo, que vai dos risos da criatura no papel de primeiro-ministro à prepotência dos comunistas de estirpe sortida.
A criatura ri. Os comunistas mandam. O povo afunda-se, embora parte do povo tome o fundo pela superfície. A propósito de superfícies, há também um Presidente, em larga medida eleito para servir de contrapeso e que afinal não pesa nada, ou menos que nada. E há a generalidade dos media, que se não falam de futebol, de fado e dos "ff" que calham, tratam a situação com uma normalidade que definitivamente a situação não justifica.
No fim de 2015, previ, porque era fácil de prever, que o arranjinho em curso nos encaminhava para a Venezuela. Amigos bem-intencionados criticaram-me o exagero. Aos poucos, os amigos calaram-se e o exagero tornou-se plausível. Foi oficializado há dias, quando uma das irmãs Metralha, perdão, Mortágua desafiou uma plateia de socialistas a trocar o capitalismo pelo leninismo e decretou: "Temos de perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular dinheiro." Os aplausos da plateia demonstraram que a falta de vergonha não é exclusiva da senhora.
Daqui em diante, o saque não carece de dissimulações. Os parasitas assumiram ao que vêm e para onde vão. O País regressa em passo acelerado rumo ao PREC, agora sem tropa e, perante uma Alemanha cansada de inimputáveis, talvez sem Europa que nos valha. Esperemos um milagre.
Enquanto isso, o que está a acontecer é um crime, que nunca terá condenados excepto pelas respectivas vítimas. E as vítimas, muitas inocentes, outras nem tanto, serão imensas: o projecto de acabar com os ricos criará uma quantidade incomensurável de pobres. Isto não promete correr bem. E começa a haver quem diga que ainda pode correr pior. Mas – que querem? – sou um optimista. 

O BOM

Lisboa me mata

Gostaria de notar que o parlamento espanhol está há 10 meses sem aprovar leis. Vou a Espanha quase todas as semanas, não só pelo combustível. Por muito que procure, não vejo por lá as calamitosas consequências da lacuna, das crianças famintas aos cadáveres empilhados na sarjeta. Pelo contrário, vejo um país próspero (com crescimento a rondar os 3%) e que, ao invés do nosso, não se parece com um velório. Conclusão? Nenhum governo é preferível a qualquer governo. E se o Governo é o que temos, antes nem ter País, aliás uma questão de tempo.

O MAU

A doença

A participação de José Sócrates numa "iniciativa" do PS? Fascinante, a "iniciativa" e o facto de, para alguns pasmados, o PS ainda possuir vestígios de integridade susceptíveis de serem maculados por coisas assim. Não possui. Desde que adoptou a fúria bolchevique, o PS merece menos crédito do que um alcoólico anónimo na Oktoberfest. Após a ovação à menina Mortágua, o "eng." é quase prestigiante. E o palhaço Batatinha daria prestígio a sério. Aquilo é uma doença, da qual as pessoas civilizadas tentam guardar distância. Só falta conseguirem.

O VILÃO

Vamos cantar o Imagine?

A explosão em Manhattan que feriu 29 pessoas foi, nas primeiras declarações do governador de Nova Iorque, "um acto de terrorismo interno". Um acto de terrorismo interno perpetrado por, entre outros terroristas internos típicos, Ahmad Rahami, talibã nascido no Afeganistão. Pelos vistos, a América já assimilou a mania de fingir que cada matança cometida por um muçulmano em nome do islão é de autoria indefinida e motivação vaga. O truque é tão tosco que quase diverte, mas, com as vítimas e tal, não dá jeito. Passemos às vigílias e aos apelos à paz.

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Revista Tellus nº 80

Acaba de sair a público o nº 80 da revista Tellus (Vila Real), revista de cultura transmontana e duriense.