segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Os problemas da gravidade

JORGE LAGE
Aprendi nos bancos colegiais, estudando a física, que a gravidade dos corpos é proporcional à densidade da sua massa. Que há grandes corpos que pouco peso têm e pequenos corpos pesam e pesam. Por isso se diz: - é pesado como chumbo. Ou: - pesa como um balão. Também se diz de alguém que é bom neste ou naquele saber, nesta ou naquela profissão, ou neste ou naquele desporto: - é um peso pesado (passe a redundância). O comum dos portugueses sabe que a política é arte de enganar e até, para alguns, de roubar. A clubite da política leva a avaliar os profissionais da política não pela inteligência, verticalidade e sensatez, mas pela cor partidária. Se um bom político é de direita, é certo e sabido que vai haver um ruído ensurdecedor de que não presta. Se é de esquerda, é sempre uma grande cabeça, do melhor que há, nem que seja uma nulidade. É histórico o complexo das esquerdas em falar dos grandes criminosos revolucionários do séc. XX. Sabemos à saciedade, e bem, das monstruosidades de Hitler, mas pouco ou quase nada se fala do bolchevique Staline (da grande fome da Ucrânia promovida por este criminoso, ou das deportações para a Sibéria dos Gulag, responsável pela morte de mais de 40 milhões de pessoas) ou de Mao (que entre 1958/60 promoveu «Grande Salto Adiante» - grande fome por si arquitectada – nos campos de concentração, com 30 milhões de mortos no deserto de Góbi e imortalizado por Yang Xian-hui no filme «O Cântico dos mártires nos campos da morte da China de Mao»). Pessoalmente quando vejo ataques e mais ataques a um político ou é muito mau ou tem valor. Se ele vai procurar a vida noutras paragens até bato palmas e acho que faz muito bem. Em tempos, dois ministros do governo de Guterres, Pina de Moura e Jorge Coelho deixaram o governo e conseguiram bons lugares muito bem remunerados. Depois, foi o Durão Barroso, que era atacadíssimo pela esquerda, fez contas à vida e foi para Presidente da União Europeia (UE). Imediatamente começaram os coros de protestos. Quando me puxavam a conversa eu achava que tinha feito bem. Se não o queriam como Primeiro-Ministro fez bem tratar da vidinha longe daqui. Mudou o disco dos protestos, ao pensarem que voltava. Que era um zero. Não mandava nada na UE. A seguir lembro-me de Álvaro Pereira. Na pasta da Economia diziam de todos os lados que era um incompetente. É posto na rua e concorre, por concurso internacional à Vice-Presidência da OCDE e é selecionado. Voltam as críticas nas redes sociais pelo lugar que conseguiu por mérito. O Durão Barroso deixa a UE e passados vários meses é convidado pelo maior grupo financeiro mundial a ganhar uma pipa de massa e aqui d’el rei que não havia de aceitar. Confrangedor este espectáculo de um certo país de maldizentes e ronhosos. O último foi o Paulo Portas que não valia nada, enquanto estava no governo, que estava a afundar o país (e as exportações a crescer). Deixa a política em dois tempos e é convidado pelo mundo empresarial com lugares importantes e volta a virar o disco do protesto. Agora os ronhosos e maldizentes de sempre inundam a internet a difamar os que largaram a política e procuraram lá fora outra vida. Gritam que é grave o Durão Barroso, o Vítor Gaspar, o Paulo Portas e outros irem para empresas/instituições tão importantes e com tanto poder. Gravidade, a meu ver, é serem contratados por empresas ou grupos financeiros de topo mundial, não por aceitarem, mas por os políticos de meia-malga, que temos por cá, não os convidarem para lugares em serviços estratégicos do nosso Estado para sermos mais competitivos e aumentarmos a riqueza nacional. Sem boas exportações, boa gestão financeira e bons investimentos não há treta política que nos salve, tenha a cor que tiver. Esta é a grande gravidade, não sabemos aproveitar os nossos pesos pesados, sejam de direita ou de esquerda.

Jorge Lage –  jorgelage@portugalmail.com  – 15JUL2016
Provérbios ou ditos:

      Quando não chove no S. Mateus é por milagre de Deus.
      Remenda o pano, durar-te-há outro ano.
      Em Setembro, antes de chover, o souto o arado quer ver.

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