Imagem do "Cristo das Trincheiras" (da Flandres) |
Jorge Lage |
O
meu pai tinha 11 anos quando (Janeiro de 1917) os soldados do RI 30 de Bragança
partiram para a Primeira Grande Guerra. Vinha o comboio repleto de soldados e
não o deixaram parar em Mirandela, num dia de feira, com receio de que alguns
desertassem.
Na
Flandres, foi uma mastragada dos aliados da qual se vingou o «Herói Milhões»
(Aníbal Augusto Milhais), com outra «mastragada» dos alamões.
-Querem saber como o povo romanceava a
lenda do «Herói de La Lys»? Pois bem! Ele ficou só com um municiador da
metralhadora e se fugisse ele abatia-o. Os alamões avançavam juntos em passeio
num campo de batalha de mortos e foram surpreendidos pelas rajadas constantes
do Soldado Milhões, escondido a trás de uma mula esbandulhada. E os alamões
ficavam mortos de pé encostados uns aos outros, tantos eram eles!
Está
é a lenda popular, porque, na realidade, o Milhões teve sorte, além da coragem,
e o «Cristo das Trincheiras» protegeu-o ao longo de três errantes dias até que
se agrupasse com os nossos.
O
CEP (Corpo Expedicionário Português) não se tinha preparado para a guerra, nem
sequer na logística, quanto mais para combate! O CEP ocupou na Flandres ocupava
o terreno entre Lacouture e Neuve-Chapelle e uma cruz de madeira dominava a
planície.
A
grande ofensiva alemã de 9 de Abril de 1918 foi um inferno ou um cemitério
juncado de cadáveres entre eles 7.500 da 2.ª Divisão de Infantaria portuguesa.
No final apenas o Cristo se mantinha de pé e mutilado, sendo levado pelos
portugueses que se foram reagrupar nas linhas aliadas. Com que coragem e Fé, os
portugueses destroçados e estropiados, levavam consigo o Cristo mutilado!
MOSTEIRO de Santa Maria da Vitória - BATALHA |
Passados 40 anos, em 1958, o Governo Português pediu a França para ficar com esta imagem. E voou para Portugal, a 4 de Abril de 1958, e passados 4 dias estava no Mosteiro da Batalha para as Comemorações de 9 de Abril, sendo recebido com pompa e dignidade, este símbolo da Fé e do Patriotismo luso e colocado à cabeceira do túmulo dos dois «Soldados Desconhecidos». A guarda de honra coube a um batalhão do RI 7 (Leiria), a fanfarra do RI 19 (Chaves – sempre teve bons corneteiros) e uma Bateria do RAL 4 (Leiria) salvou com 19 tiros, perante altas patentes, adidos militares e embaixadores.
Curiosamente,
vi o Cristo das Trincheiras pela primeira vez, há meio século, na mítica, «Sala
do Capítulo» no Mosteiro de Santa M.ª da Vitória ou da Batalha. Não deixa de
ser muito favorável a este ambiente que nos toca na alma que, sob a abóbada da
Sala do Capítulo, tenha ali padecido «um cristão», o «Arquitecto Afonso
Domingues».
"Cristo das Trincheiras" no Mosteiro da Batalha |
Naquele
tempo de algum aperto económico para Portugal, as viagens do Colégio Marista
eram feitas em camionetas de caixa aberta, em «confortáveis» bancos corridos de
madeira, da Legião Portuguesa e até achávamos que era boa gente por serem de
graça. Então, as viagens à praia e aos locais turísticos deixavam-nos
entusiasmados e íamo-nos cultivando. As camionetas da Legião eram um luxo para
quem só viajava nas carruagens de bancos de madeira, em 3.ª classe, dos
caminhos-de-ferro. Eram dias diferentes! E a visita à Batalha e Alcobaça foram
dos mais marcantes.
O
«Cristo das Trincheiras» simboliza a Fé e a capacidade de resistência ao
sofrimento dos portugueses, mesmo abandonados pelo poder político. Por isso o
povo diz, e com razão: - quando o pau da barca falha a Fé é que nos salva.
Nota: Este texto pertence a um conjunto de notas de rodapé. Pela sua importância optámos por o publicar autonomamente.
Das várias visitas que já tive ocasião de fazer ao Mosteiro da Batalha, eu me concentrei mais na parte histórica de Nuno Alvares Pereira.
ResponderEliminarAlgumas das minhas fotos e vídeos remontam a 1990 quando lá passei uma manhã inteira antes de seguir para Fátima e Leiria. Por isso, na minha próxima visita e já está programada para o Verão deste ano, vou tentar trazer imagem minha para o meu Video Album sobre as minhas viagens a Portugal, como Emigrante, Claro!
Os meus agradecimentos aos Conterrâneos Eméritos Escritores Jorge Lage e Jorge Golias pela partilha.
Um Forte Abraço ao Dr Armando Palavras.
Fiquem com Deus
Silvino Dos Santos Potêncio
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil